sábado, 29 de setembro de 2018

Entidades médicas apresentam manifesto pela vacinação compulsória



Diante das baixas taxas de cobertura vacinal, particularmente em doses do calendário infantil e do risco de reintrodução e recrudescimento de doenças controladas ou já erradicadas no Brasil, entidades médicas elaboraram um manifesto pela vacinação compulsória no país.
O documento, assinado pela Sociedade Brasileira de Imunizações, Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade de Pediatria de São Paulo, cita a apreensão por parte dos profissionais da saúde e sugere ações que poderiam contribuir para uma mudança de cenário.
O texto destaca a existência de dispositivos legais no Brasil que estabelecem a obrigatoriedade da vacinação de crianças, como o Decreto n° 78.231, de 12 de agosto de 1976, que regulamenta o Programa Nacional de Imunizações.
O artigo 29 prevê que “é dever de todo cidadão submeter-se e aos menores dos quais tenha a guarda ou responsabilidade à vacina obrigatória”, enquanto o parágrafo único cita que “só será dispensada da vacinação obrigatória a pessoa que apresentar atestado médico de contraindicação explícita da aplicação da vacina”.
O manifesto também faz referência à Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990, que cria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e cujo artigo 14 diz que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.
O documento destaca ainda o artigo 13, que diz que “casos suspeitos ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao conselho tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”, e o artigo 249, que prevê multa de três a 20 salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência, para quem “descumprir dolosa ou culposamente os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrentes de tutela ou guarda, bem assim, determinação da autoridade judiciária ou conselho tutelar.
Propostas
O texto propõe que todos os envolvidos com o ato vacinal, direta ou indiretamente, conheçam, entendam, destaquem e respeitem os aspectos legais, as implicações e as sanções que podem advir nos casos de recusa vacinal, explicando aos indivíduos, pais e responsáveis todos esses aspectos.
Outra ação proposta é que se estabeleçam mecanismos legais que tornem obrigatória a apresentação da carteira de vacinação atualizada de todas as crianças e adolescentes como pré-requisito para matrícula em estabelecimentos que prestem atenção a eles, como berçários, creches e escolas. Constatada qualquer incompatibilidade entre o documento e o indicado pelo Programa Nacional de Imunizações, o manifesto sugere que pais e responsáveis sejam convocados e encaminhados a um serviço de saúde para que lhes sejam passadas as informações sobre o calendário vacinal, por meio de profissionais capacitados.
De acordo com o texto, o ingresso de crianças e adolescentes em estabelecimentos de cuidados e de ensino representa uma importante oportunidade diagnóstica da situação vacinal e ferramenta para correção de falhas e atualização do calendário preconizado pelo Ministério da Saúde, com a possibilidade de se responder a dúvidas e questionamentos dos pais e responsáveis sobre vacinação.
“As sociedades médicas signatárias deste documento entendem que as propostas apresentadas se mostram como ações efetivas na busca de uma melhor saúde pública para todos os brasileiros, particularmente no que se refere ao controle das doenças imunopreveníveis, e se colocam abertos a discussões em busca de caminhos e soluções junto às entidades governamentais competentes”, destacou o manifesto.
Obrigatoriedade
Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, explicou que a proposta é chamar a atenção da população para algo que não é novo – a obrigatoriedade da vacinação no país.
Para ela, os decretos e leis citados no documento podem ter sido esquecidos ao longo do tempo, uma vez que, até a década de 90, era rotina que toda criança apresentasse a carteira de vacinação no ato da matrícula.
“Hoje, a gente tem escolas que fazem, alguns estados que regulamentam isso um pouco mais. E o que a gente está fazendo aqui é trazer isso de novo para discussão, entendendo que não é nossa intenção simplesmente dizer “Vamos obrigar”. Isso é o pontapé de um trabalho que pretendemos fazer com outras sociedades, órgãos governamentais e órgãos representativos da educação.”
Isabella citou inquéritos internacionais que sugerem que mais de 70% dos brasileiros acreditam na vacinação, enquanto 20% hesitam em meio a fake news (notícia falsa).
Para ela, a prova de que a população confia nas doses é o índice de 97% de crianças vacinadas contra a poliomielite e o sarampo após campanha em massa feita pelo governo federal.
“Cadê essas pessoas contra a vacina? São poucas. É diferente da Europa e dos Estados Unidos, que precisam obrigar quem é contra a se vacinar. Aqui, a gente precisa criar um movimento que faça com que essas pessoas tenham a proatividade de vacinar seus filhos”, disse.
A médica pediatra reforçou que a ideia não é embarreirar alunos em instituições de ensino por falta de vacinas. A obrigatoriedade, segundo ela, estaria relacionada apenas à apresentação da carteira de vacinação no ato da matrícula, para que não haja risco de evasão escolar.
“Não podemos ter crianças brasileiras fora da escola porque não estão com a carteira de vacinação em dia. Por isso, volto a dizer: o manifesto é uma forma de colocar o assunto em pauta”, concluiu.
O texto será encaminhado ao Ministério da Saúde, ao Ministério da Educação, ao Poder Legislativo e a representações e entidades médicas de outras especialidades.
Fonte: Agência Brasil

Grupo Alcoólicos Anônimos faz 70 anos e lança aplicativo para celular



Como parte das comemorações dos 70 anos dos Alcoólicos Anônimos (AA) no Brasil, o grupo lançou um aplicativo para celulares. O objetivo é facilitar o acesso a informações como horário e local de encontros e divulgar as bases e preceitos da entidade. Tudo disponível gratuitamente em português, inglês e espanhol para os sistemas Android e IOS, digitando Alcoólicos Anônimos no Google Play e na App Store.
O AA é formado por diversos grupos que se reúnem para compartilhar experiências sobre como ajudar as pessoas que querem parar de beber e como manter sóbrios os que já deixaram o álcool de lado. “[São] reuniões de ajuda mútua, nos encontramos trocando experiências. Aqueles que estão há mais tempo passando a experiência de como conseguiram parar de beber, reorganizar a sua vida e buscar novos horizontes”, explicou Raul, que faz parte do grupo há 22 anos.
Ele disse que o AA mantém suas bases desde que foi trazido dos Estados Unidos para o Brasil, por um dos membros. Atualmente, são cerca de 4,9 mil grupos em todo o país. Segundo Raul, chegam aos encontros pessoas com os mais diversos perfis. “Se o álcool está trazendo algum tipo de transtorno para a sua vida, prejudicando o dia a dia, elas vêm em busca de informações.”
O AA considera o alcoolismo uma doença crônica. “Alcoolismo é uma doença progressiva, que começa em um beber social e, em um momento, acaba trazendo o caos para a vida da pessoa”, diz Raul sobre o desenvolvimento do problema.
O psicólogo Bruno Logan, especialista em uso de drogas, explica que o modelo do AA pode ser um apoio importante em alguns casos. “Você se sente muito acolhido, sente-se dentro de um grupo, pertencente a algo. Muitas vezes, quando a pessoa tem um problema com álcool ou com drogas, ela se sente excluída da sociedade, do trabalho, da escola, da família. Então, quando chega a um lugar em que as pessoas a acolhem, é muito potente isso.”
Modelo com limitações
No entanto, a ligação da entidade com a religião pode ser um limitador para algumas pessoas. Apesar do AA não promover nenhuma igreja ou seita específica, as bases do grupo preveem a crença em Deus e, em vários casos, as reuniões são feitas em instituições religiosas. “Aqui no Brasil tudo que envolve religião tem uma questão moral problemática. Se a pessoa já tem problema com o uso de uma substância, ter ainda um julgamento moral não vai contribuir nada, vai trazer ainda mais dificuldades para essa pessoa”, destacou o psicólogo.
Logan acrescentou que o AA também não oferece espaço para aqueles que não querem ou não conseguem parar de beber, uma vez que o objetivo do grupo é manter os participantes sóbrios.
Para ele, as estratégias de cuidado devem ser adaptadas ao contexto e às necessidades de cada pessoa. “Eu tenho pacientes que tomam três latinhas de cerveja e têm um problema de um uso problemático imenso, que aquilo desorganiza de uma forma muito grande. E tem pessoas que estão em situação de rua, que trabalham, têm empresa e que tomam um litro de cachaça por dia e não identificam um problema com álcool.”
Fonte: Agência Brasil

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Menino com autismo é premiado após ligar para emergência e salvar mãe


Annabella e Tyler receberam certificados por terem conseguido manter a calma e ajudar a mãe 
Um menino de 5 anos com autismo que discou para o serviço de emergência do Reino Unido depois que a mãe desmaiou foi recompensado pela coragem. 
Charley-Anne Semple, de 27 anos, estava em casa em Thurrock, no condado de Essex, no último dia 21 de setembro, quando perdeu a consciência. 
Tyler então telefonou para solicitar uma ambulância e pediu ajuda a um vizinho, juntamente com a irmã Annabella, de 3 anos, que também tem autismo. 
"Isso é um feito fantástico para qualquer criança de 5 anos, mas mais ainda para uma criança com espectro de autismo", disse a Sociedade Nacional de Autismo.
'Maçã envenenada'
Semple perdeu a consciência depois de voltar para casa após um "dia corrido" com as crianças. Ela tem um problema de saúde que a deixa suscetível a esse tipo de episódio.
"Tyler disse ao serviço de emergência que eu estava morta e que eu teria comido uma maçã envenenada dada por uma bruxa feia", contou ela. 
"Eles devem ter achado que era um trote. Ele ficava repetindo o endereço completo da nossa casa e não respondia às perguntas que faziam."
Mas Semple afirma que, apesar das limitações, o filho conseguiu passar a mensagem ao interlocutor. "Eu acho que ele disse: 'Eu sou Tyler, eu tenho autismo'. Isso ajudou e eles passaram a compreender o Tyler melhor."
O operador do outro lado da linha disse para Tyler caminhar com a irmã até a casa da vizinha. 
Para tornar a situação mais dramática, a vizinha teve que entrar na residência de Semple pela janela, porque a porta da casa da família se fechou quando as crianças saíram de lá em busca de ajuda - a porta é daquelas que tranca por fora automaticamente ao fechar. 
"Eu estou muito orgulhosa das crianças por terem mantido a calma. Meus filhos provaram a si mesmos que conseguem lidar com uma situação como essa."
Semple conta que Tyler tem muita dificuldade para conversar com outras pessoas e que ficar por 10 minutos no telefone para pedir socorro deve ter sido um desafio para o menino. 
"Repassar o endereço, receber instruções... Essas são coisas que ele considera muito difíceis."
A Sociedade Autista Nacional deu a Tyler um certificado pela coragem. Annabella também foi parabenizada por ter dado beijos na mãe e acariciado a mão dela até que os paramédicos chegassem. 
A instituição disse: "Muitas crianças com autismo já acham difícil se comunicar com pessoas que elas conhecem, imagina pegar um telefone e falar com um desconhecido."
O serviço de emergência que atendeu Semple disse que Tyler sabia exatamente o que fazer e que foi muito corajoso "diante de uma situação que deve ter sido assustadora para ele". 
Fonte: BBC Brasil

Doutores da Alegria celebram 15 anos de atuação no Recife com passeio ciclístico



Por Rebeka Gonçalves
No próximo domingo (30/09), o 15º aniversário da atuação dos doutores da alegria no Recife será comemorado com o passeio ciclístico mais bobo do mundo, o Bobociclismo, com concentração a partir das 8h30, no Parque da Jaqueira, em frente ao Econúcleo. Serão percorridas várias ruas, pontes e avenidas da Zona Norte e do Centro do Recife. Às 13 horas, acontecerá a abertura da exposição fotográfica Doutores da Alegria Recife 15 anos, na Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife.
Doutores da Alegria é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que utiliza a arte do palhaço para intervir junto a crianças, adolescentes e outros públicos em hospitais públicos e ambientes adversos. Fundada por Wellington Nogueira em 1991, a associação já realizou mais de 1,7 milhão de intervenções junto às crianças hospitalizadas, seus acompanhantes e profissionais de saúde.
“A presença do Doutores da Alegria no hospital causa impacto imediato: o encontro com a criança, a cumplicidade dos pais e da equipe de saúde, o ambiente que se transforma. Além da atuação nos quatro hospitais atendidos no Recife - Hospital da Restauração, Barão de Lucena, Hospital Universitário Oswaldo Cruz e Procape, e Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) – a associação alcança o público em geral através de espetáculos e intervenções urbanas. Nossa atuação estimula o lado saudável das crianças, dentro e fora dos hospitais. E tanto o exercício físico quanto a arte fazem parte disso”, explica Arilson Lopes, coordenador artístico da unidade Recife dos Doutores da Alegria.
A exposição ‘A máscara do palhaço inserida no ambiente hospitalar’, que está marcada para depois do Bobociclismo, tem a curadoria da fotógrafa e professora Renata Victor. A mostra reúne 15 imagens registradas por fotógrafos que acompanharam o trabalho dos Doutores da Alegria ao longo desses anos de atuação continuada. 
A escolha das imagens que compõem a exposição foi de um acervo de mais de mil fotografias. “Pensei que iria me deparar com imagens pesadas, diante da realidade de vulnerabilidade das crianças nos hospitais. Mas o que encontrei foi um universo de beleza e de bem-estar. A cada foto selecionada, percebia como os palhaços encontram a melhor maneira de intervir junto às crianças”, explica a curadora. 
“As fotografias mostram o que, muitas vezes, é difícil traduzir em palavras: a sensibilidade de cada encontro entre o palhaço e a criança hospitalizada, o seu acompanhante, o profissional de saúde. O nosso trabalho é baseado na potência desses encontros”, acrescenta Arilson Lopes. A exposição vai circular pelos quatro hospitais atendidos pelos palhaços na capital pernambucana. De 02 a 18 de outubro, a mostra será montada no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos.
Como ajudar os Doutores da Alegria 
O trabalho da associação Doutores da Alegria, gratuito para os hospitais, é mantido por doações de empresas e de pessoas físicas, tanto por recursos próprios quanto por recursos advindos por meio das leis de incentivo fiscal. Os recursos das contribuições permitem a continuidade e a expansão das atividades e da estrutura do grupo, a realização de atividades de formação, oficinas e o aprimoramento técnico dos artistas. 
Quem quiser ajudar o trabalho da organização pode entrar no site www.doutoresdaalegria.org.br e pela fanpage ‘doutores’.

Concurso da Saúde em PE: inscrições seguem até 03 de outubro



Foi prorrogado até as 14h do dia 3 de outubro o período de inscrição do concurso público de 1 mil vagas para a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES/PE). Para validar a participação no certame, é preciso se inscrever pelo www.institutoaocp.org.br. Até o momento, mais de 127 mil pessoas fizeram a inscrição, contudo, apenas 63 mil já tiveram o pagamento da taxa confirmado. A taxa de inscrição é de R$ 40 (nível médio) ou R$ 60 (nível superior).
Das 1 mil vagas, 970 são para o grupo ocupacional saúde pública, sendo 260 para o cargo de médico, 250 para analista em saúde (diversas profissões de nível superior) e 460 assistente em saúde (diversas profissões de nível médio). As outras 30 vagas são do grupo ocupacional de fiscalização sanitária da saúde, todas para fiscal de vigilância sanitária. No edital, são especificados os requisitos para cada cargo/especialidade, além das atribuições. Importante frisar que as vagas são para cargos e lotação em Gerências Regionais de Saúde (Geres) que a Secretaria não possui mais banco do último concurso realizado em 2014, que ainda está vigente até dezembro de 2018. Os cargos beneficiados com o concurso público de 2014 que ainda possuem banco continuam válidos.
O concurso público será dividido em duas etapas para os profissionais de nível superior (médicos, analistas em saúde e fiscais de vigilância sanitária), sendo uma prova objetiva e, para os aprovados nessa etapa, avaliação de título. Já para os assistentes em saúde (nível médio), o certame será em uma fase (prova objetiva). A prova objetiva será realizada de acordo com conhecimentos da língua portuguesa, conhecimentos gerais do Sistema Único de Saúde (SUS) e conhecimentos específicos relacionados diretamente à natureza de cada cargo/especialidade, como descrito no edital.
A prova objetiva será realizada em 21 de outubro, com divulgação do resultado final dessa etapa em 26 de novembro. Já a convocação dos candidatos classificados para a avaliação de títulos será entre 26 e 30 de novembro. O resultado final do concurso, após o período de recurso, será em 15 de janeiro de 2019.
O concurso, realizado pelo Instituto AOCP, terá validade de dois anos após a homologação, podendo ser prorrogado pelo mesmo período.
INSENÇÃO 
Nesta quinta-feira (27/09), foi divulgado o resultado da solicitação de isenção. Os recursos contra o indeferimento poderão ser feitos até 1º de outubro, com divulgação do resultado em 02/10. 
CARGOS DO CONCURSO
Assistente em saúde (nível médio): assistente técnico de administração, técnico de enfermagem, técnico de imobilização ortopédica, técnico de laboratório, técnico de necrópsia, técnico de radiologia, técnico em saúde bucal, técnico em farmácia.
Analista em saúde (nível superior): assistente social, biomédico, enfermeiro, enfermeiro cardiologista, enfermeiro obstetra, enfermeiro oncologista, enfermeiro uteista, farmacêutico, fisioterapeuta, fisioterapeuta em terapia intensiva, fisioterapeuta respiratório, nutricionista, psicólogo, sanitarista, médico veterinário, administrador, contador e analista em educação na saúde.
Fiscal de vigilância sanitária (nível superior): enfermeiro, farmacêutico e nutricionista.
Médico (nível superior): anatomopatologista, anestesiologista, cardiologista, cirurgião de cabeça e pescoço, cirurgião geral, cirurgião oncológico, cirurgião pediátrico, cirurgião toráxico, cirurgião vascular, cirurgião geral, coloproctologista, endoscopista, infectologista, intensivista adultio, intensivista pediátrico, neonatologista, neurocirurgião, neuropediatra, oncologista, otorrinolaringologista, pediatra, pneumologista, psiquiatra, tocoginecologista, traumato-ortopedista, urologista e médico em radiologia e diagnóstico por imagem.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Hospital Português realiza o II Simpósio de Transplantes de Órgãos e Tecidos



Por Rebeka Gonçalves
Nesta quinta (27/09), em alusão à Semana Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos acontece o 2º Simpósio de Transplantes de Órgãos e Tecidos, no Salão de Convenções do Real Hospital Português, a partir das 13 horas. O encontro abordará os principais desafios para a realização dos transplantes, desde o momento da procura e captação de órgãos até as possíveis complicações que podem ocorrer.
Durante o evento, serão discutidos temas como o acolhimento da família do doador; os desafios na cirurgia de retirada de órgãos do doador em morte encefálica; a escolha do melhor doador de medula óssea; além dos desafios nos transplantes cardíaco, hepático e renal. A coordenação do encontro é da presidente da Comissão de Transplantes do RHP, Luciene Melo.  
Uma das palestrantes do Simpósio, a gastrohepatologista Andrea Doria falou sobre os maiores desafios para a realização dos transplantes. “Nos últimos 10 anos, o número de transplantes de órgãos e tecidos vem aumentando em nosso país. Entretanto, ocupamos apenas o 28º lugar mundial, quando o assunto é a doação de órgãos. Em relação ao fígado, somos o segundo país, entre 30 países incluindo Estados Unidos e Europa, em números absolutos de transplantes. Foram cerca de 2 mil transplantes em 2017 e mil no primeiro semestre de 2018. Apesar disso o número de pacientes esperando por um órgão ainda é o dobro do número de cirurgias realizadas no caso dos dois órgãos mais transplantados no Brasil, o rim e o fígado. Temos, portanto, muitos desafios a serem enfrentados para alcançarmos nosso maior objetivo que é aumentar o número de transplantes e diminuir o sofrimento daqueles que aguardam por um órgão na fila. E tudo isso será discutido hoje no II Simpósio do Transplantes de Órgãos e Tecidos no RHP”, conclui.   

Doação de Órgãos: Recusa familiar ainda é o grande entrave para a realização dos transplantes


Em 2018, 53,7% das famílias negaram a doação de órgãos/tecidos em Pernambuco
Por Rebeka Gonçalves
Durante essa semana, a Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE) participa de atividades em alusão ao Dia Nacional de Doação de Órgãos. Ontem (26/09), a coordenadora da CT-PE, Noemy Gomes, realizou uma exposição dos números de transplantes realizados em Pernambuco, em 2018. O evento aconteceu no Imip e contou com apresentação do coral João Emiliano, da Associação de Pacientes Renais. 
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), entre janeiro e agosto, Pernambuco conseguiu efetivar 315 transplantes de rim. O quantitativo é 22% maior do que o mesmo período de 2017, quando foram realizados 259 procedimentos. O rim é o órgão que possui a maior fila de espera no Estado, com 794 pacientes. 
Noemy Gomes destaca uma das maiores dificuldades para a realização do procedimento: “Um dos maiores desafios é fazer com que o percentual de recusa familiar para a doação de órgãos reduza a cada ano. Para isso, estamos investindo nos treinamentos e capacitações para profissionais de saúde, inclusive para os que não estão envolvidos diretamente no processo da doação, mas atuam na área da assistência das unidades hospitalares. Temos equipes captadoras e transplantadoras de órgãos e tecidos treinadas e à disposição o ano inteiro para realizar todo o processo. Contudo, só conseguimos efetivar um transplante se tivermos um sim de alguma família”, ressalta. 
Hoje, o Real Hospital Português (RHP) reunirá especialistas da área no II Simpósio de Transplantes de Órgãos e Tecidos. As palestras, divididas em quatro módulos, tratarão dos desafios enfrentados pelos profissionais envolvidos no processo. A coordenadora da CT-PE participará do 2º Módulo -Os Desafios que antecedem a realização dos transplantes- com a apresentação “A procura e a distribuição de órgãos e tecidos”.   
Entretanto, nada disso adianta sem o apoio dos familiares que perdem seus entes queridos. Os dados da Central mostram que no primeiro semestre desse ano, as Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) e Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos (Cihdotts) realizaram 227 entrevistas com familiares de pacientes com diagnóstico de morte encefálica. Desse total, 122 famílias autorizaram a doação do órgão/tecido do seu ente (53,74%) e 105 recusaram (46,26%). Nos meses de julho e agosto, a CT-PE registou os menores percentuais de recusa, de 34% e 29%, respectivamente.  
O transplantado e integrante do coral da Associação de Pacientes Renais, José Nailson da Silva, fala da importância de receber um rim novo: “Tenho na minha família pessoas com problemas renais. Fui uma delas, e no período de espera por um rim novo realizei procedimentos de hemodiálise e diálise peritoneal. Vivi essa situação por 16 anos e esperei por tanto tempo que achei que não chegaria a minha vez, mas graças à decisão do meu doador consegui mudar essa situação”, relata. 
Morte encefálica 
“Este ano, um dos nossos avanços foram as capacitações sobre morte encefálica para mais de 190 médicos da rede estadual, onde abordamos, além do protocolo, a importância do acolhimento e entrevista familiar após confirmada a morte encefálica do paciente", ressaltou Noemy.
A morte encefálica acontece quando o cérebro perde a capacidade de comandar as funções do corpo, como consequência de uma lesão conhecida e comprovada. Nesse caso, o paciente é um potencial doador de órgãos sólidos e tecidos - coração, rins, pâncreas, fígado e córneas – já que, apesar de não haver mais atividade cerebral, os órgãos continuam em funcionamento com a ajuda de aparelhos. De acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), atualizada no final de 2017, o diagnóstico de morte encefálica deve ser iniciado em todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia persistente.
A morte deve ser atestada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e de transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos. Além do exame clínico, com um intervalo mínimo de uma hora entre o primeiro e o segundo, o paciente deve ser submetido a um teste de apneia e a exames complementares. Entre os exames a serem realizados, podem ser feitas a angiografia cerebral, o eletroencefalograma, o doppler transcraniano e a cintilografia. O laudo deve ser assinado por profissional com comprovada experiência e capacitação para a realização desse tipo de exame.
Córnea zero  
Desde julho de 2017, Pernambuco retomou o status de córnea zero. Isso não significa ausência de pessoas em fila de espera, mas que todo paciente que tiver indicação para um transplante de córnea, depois de realizar os exames necessários para ser inscrito na fila de espera, fará o procedimento em até 30 dias.
Em 2018, já foram realizados 529 transplantes do tecido (696 em 2017). Entre os hospitais captadores, destaca-se o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), em primeiro lugar com 127 doações, seguido do Imip (78), Hospital da Restauração (64) e Hospital Mestre Vitalino (54).
Você pode salvar uma vida 
De acordo com o último balanço da CT-PE, 1.067 pessoas estão em fila de espera por um órgão ou tecido. O maior quantitativo é para rim (794), seguido de fígado (117), córnea (111), medula óssea (29), coração (11) e rim/pâncreas (5). Coração, fígado, rim, pâncreas são doados quando há a morte encefálica do paciente. Mas, o rim e parte do fígado também podem ser doados em vida.
“Receber essa doação representou tudo para mim. Solicito às pessoas que autorizem a doação dos órgãos e que comuniquem as suas famílias dessa decisão, pois esse gesto salva mesmo uma vida”, conclui José Nailson.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Catarata a doença que afetou até a Rainha da Inglaterra



Por Rebeka Gonçalves
No primeiro trimestre deste ano, a rainha Elizabeth passou por uma cirurgia de catarata, que é a operação mais realizada no Reino Unido, de acordo com o Hospital King Edward VII, em Londres. A catarata é definida como a perda progressiva da transparência do cristalino, a lente natural do olho, e afeta quase 50% da população mundial acima de 65 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). 
“Os sintomas mais frequentes da catarata são visão turva; diminuição da sensibilidade às cores e ao contraste; visão dupla num olho; aumento da sensibilidade à luz; alteração frequente dos erros refrativos, com mudança frequente de óculos; diminuição da visão noturna”, afirma a oftalmologista do Centro Médico Sen. José Ermírio de Moraes, Cristiane Amaral que também alerta sobre a importância do diagnóstico precoce, uma vez que a doença pode não apresentar sintomas na fase inicial. 
O diagnóstico é realizado através do exame oftalmológico em lâmpada de fenda e o único tratamento é a cirurgia. “A catarata tem cura através da cirurgia, na qual remove-se o cristalino opacificado e é implantada uma lente intraocular transparente no mesmo local”, explica a especialista. 
A dona de casa Conceição Martins relata como descobriu que tinha catarata: “Fui ao médico, porque não estava enxergando muito bem. Então, pensei que poderia ser miopia, mas acabei descobrindo que estava com catarata avançada e o médico passou logo os exames para a cirurgia. Fiz e passei um mês de repouso usando óculos de sol e evitando baixar a cabeça. Pronto fiquei curada”, relembra. Segundo a especialista o uso dos óculos de sol após a cirurgia serve apenas para reduzir o ofuscamento. 
Os fatores de risco são a idade a partir dos 50 anos, alta miopia, histórico familiar, cirurgias intraoculares (vitrectomia, cirurgia de glaucoma, etc.), medicamentos (corticosteroides ou mióticos), tabagismo e/ou alcoolismo, exposição excessiva à radiação ultravioleta e raio X, algumas doenças (diabetes, galactosemia, doenças renais), infeções e inflamações oculares (uveítes), traumas oculares graves. 
A prevenção da catarata pode ser feita através de alguns cuidados como recomenda Cristiane Amaral. “Podemos diminuir a chance do aparecimento precoce em alguns casos com redução de exposição à radiação ultravioleta e bons hábitos alimentares e de vida. Mas não há como impedir o aparecimento com o passar dos anos”, conclui. 

Hospitais da Rede Pública de Pernambuco que realizam a cirurgia de catarata
Hospital Maria Lucinda 
Endereço: Av. Parnamirim, 95, Parnamirim – Recife/PE
Tel.: (81) 3267.4200
Obs.: Para pacientes de catarata, favor ter em mãos o RG, certidão de nascimento e apresentação do CPF. Além do cartão do SUS. 
Horário de atendimento: Segunda a quinta, das 7h às 17h, nas sextas até às 16h e nos sábados das 7h às 9h (quando houver internamento). 

Fundação Altino Ventura (FAV) 
Matriz
Rua da Soledade, 170, Boa Vista – Recife/PE
Tel. (81)3302.4300 

Centro Especializado em Reabilitação – CER IV
Av. Maurício de Nassau, 2075 - Iputinga, Recife/PE 
Tel. (81) 3302.4300

Unidade Jaboatão
Av. Bernardo Vieira de Melo, 1650, Piedade – Jaboatão/PE 
Tel. (81) 3094-1068

Unidade Salgueiro 
Praça Benjamin Soares, 487, Centro – Salgueiro/PE 
Tel. (87) 3871-1335

Unidade Arcoverde 
Rua Sávio Napoleão, 172, São Miguel, Arcoverde/PE 
Tel. (87) 3822-3002

UPAE Ministro Fernando Lyra 
Av. José Marques Fontes, S/N, Indianópolis – Caruaru/PE 
Tel. (81) 3725.7549/7550

‘Por que filmei o último suspiro de um homem’


Roy é um dos personagens de 'Island'
Em seu leito no hospital, um homem suspira. Sua respiração cessa e ele abandona a vida.
A câmera, posicionada bem ao seu lado, continua gravando. Vemos enfermeiras movê-lo para outro quarto antes de gentilmente limpar seu corpo.
"Ninguém quer morrer, mas é algo natural. Estamos biologicamente programados para morrer", diz o documentarista Steven Eastwood.
Seu filme Island (Ilha) expõe o processo da morte ao registrar as doenças terminais de quatro pessoas. 
Não há previsão de estreia do filme no Brasil. Ele está sendo exibido no Reino Unido.
"A morte é vista como algo vergonhoso. Pensamos que somos uma sociedade progressista, mas reprimimos e negamos a morte", diz o diretor. "Dizer que não queremos que aconteça é postergar algo que não queremos encarar."
Ele foi um espectador silencioso do último ano das vidas dos personagens de seu filme, gravando-os em suas casas antes de terem de se mudar para um centro de cuidados paliativos em Isle of Wight, uma ilha na costa sul da Inglaterra.
"Precisamos de maior conscientização sobre a morte para nos familiarizarmos mais com nossa mortalidade. Não acho que isso seja um absurdo."
Ele fala com carinho sobre o tempo em que viveu o cotidiano da instituição. "Há quatro pessoas de quem eu gostava muito lá - Alan, Roy, Mary e Jamie; três tinham 80 e poucos anos e um tinha 40 e poucos."
O diretor viajava 5 horas para o centro de cuidados. Fazia viagens de barco à ilha - o hipnótico trajeto e as paisagens por trás dele aparecem no documentário.
O filme foi feito depois de dois processos de luto pelos quais passou o diretor - os de sua sogra e de seu melhor amigo, que tinha a mesma idade que ele. "Eu me toquei, então, de que não sabia muito sobre o que era cuidado paliativo."
Para Eastwood, precisamos encarar a "realidade da morte, fazê-la parte de nossa existência diária, para sentirmos menos medo".
"Acho que todos nós temos um medo existencial. 'Se eu vir alguém que eu amo morrendo, será muito traumático. A cena vai substituir as imagens que eu tenho da pessoa e eu vou me machucar, porque nunca mais vou conseguir me esquecer dela'."
"Mas para mim, não é assim. Estar com alguém enquanto ela está morrendo, com tamanha intimidade, é empoderador e traz paz."
Ele diz ter uma admiração enorme por pessoas que trabalham em centros de cuidados paliativos e diz esperar que seu filme possa "celebrar e mostrar o que é o cuidado paliativo". "As pessoas mais extraordinárias da nossa sociedade são as que têm menos visibilidade."
"São cuidadores. E o cuidado que recebemos no fim da vida é extraordinário."
Para o diretor, os centros de cuidado paliativo não são lugares "mórbidos" como se imagina, mas "são lugares vivos". 
Ele conta que, depois da exibição do filme na ilha, um morador o abordou dizendo que o filme lhe fazia ter "menos medo de morrer". "Não é uma ambição minha, mas será uma coisa boa se o público conseguir assistir ao filme e ficar em paz com o fato de que algo vai acontecer com todos nós."
Eastwood fala com carinho de todos os personagens que filmou. Fala longamente sobre Alan, vítima de câncer e cuja morte vemos no começo do filme.
'Ele estava vivo para poder fumar'
"O Alan fumava um cigarro atrás do outro desde seus 16 anos. Fumava também no centro de cuidados paliativos - e uma enfermeira acendia seus cigarros. Mas ele não estava morrendo de um tipo de câncer tradicionalmente ligado ao cigarro."
"Isso faz parte do cuidado paliativo - ajudar alguém fumar até sua morte", diz o diretor. "Os médicos achavam que, se ele não tivesse fumando, ele teria morrido semanas antes. Ele estava vivo para poder fumar."
O diretor conta que, na segunda vez em que encontrou Alan, percebeu que tinham uma conexão. O homem então lhe disse: "Acho que você gostaria de ficar comigo até o final, e acho que será ótimo." 
"Ele queria fazer algo radical com sua morte. Ele se sentia radical em relação à vida também. Acreditava que nosso corpo era só um veículo e que nos transformávamos em outra coisa."
"Ele não tinha vergonha de sua imagem. Achava que participando do filme concretizaria sua filosofia. Virou a estrela do meu filme."
'Paz em seus olhos enquanto morria'
"Sua morte foi longa. Ele ficou sem ar. Houve muita paz e beleza, e eu fiquei tocado. Não me senti triste. Ele estava pronto para morrer", lembra Eastwood.
Alan disse a Steven que viu um homem morrer quando tinha só 19 anos, durante o tempo que serviu no Exército no norte da África. Seu comandante levou um tiro e morreu em seus braços. 
"Ele segurou aquele homem e disse que viu paz nos olhos dele enquanto ele morria, e que entendeu que o que estavam experimentando não terminava ali. Havia mais", conta.
Então, diz o diretor, "a morte era algo pela qual ele estava esperando". 
Jamie, por sua vez, era jovem quando morreu. Tinha câncer de estômago em estágio avançado - e era muito ligado à filha.
"Ele queria morrer da melhor maneira possível com sua filha, então ele a envolveu em tudo. Conversaram sobre seu tratamento e como seria a vida quando ele não estivesse mais lá."
"A morte dele é a única que me deixa triste quando penso a respeito", diz Eastwood, que hoje é voluntário em um centro de cuidados paliativos. 
Com o filme, o diretor quer atrair uma audiência jovem, que ele acredita serem os que mais negam a morte por causa da pressão para serem "produtivos, jovens e bonitos". 
O filme também está sendo exibido para médicos em treinamento, em discussões sobre como se fala sobre a morte com pacientes. Os produtores do filme estabeleceram uma parceria com a NHS, o sistema de saúde público britânico. 
O diretor cita outras culturas que, em sua visão, lidam melhor com a morte. Na Irlanda, diz ele, "há um processo mais claro de luto e uma familiaridade maior com estar em torno de um corpo". 
Ele também fala sobre a América Latina e a Ásia, que têm uma atitude completamente diferente em relação ao processo da morte.
"Precisamos de uma educação melhor. Somos finitos, nosso corpo se decompõe, e eu estou paz com isso. Eu me sentia mal-informado. Agora me sinto mais esclarecido depois de fazer o filme. Espero que o filme faça isso para as outras pessoas."
Fonte: BBC Brasil

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Como a adolescência molda nossa personalidade


No decorrer da infância, nossa personalidade se torna mais estável, mas é 'chacoalhada' durante a adolescência 
Meus filhos gêmeos de quatro anos são parecidos em muitos aspectos. Ambos são sociáveis, levados e amorosos. Mas já é possível notar algumas diferenças entre eles. 
O menino, por exemplo, é mais consciente em relação ao tempo e muito curioso sobre o futuro. A menina, por sua vez, se mostra mais determinada a se virar sozinha.
Como psicólogo especializado em personalidade (e como pai), me fascina acompanhar o surgimento e desenvolvimento das particularidades de cada um.
É claro que ainda é cedo, e embora nossa personalidade tenha raízes na infância, sei que haverá muitas mudanças pela frente, principalmente quando eles entrarem na puberdade.
A adolescência é uma fase de transformações rápidas. Não é à toa que a neurocientista cognitiva britânica Sarah-Jayne Blakemore, especialista em cérebro adolescente, descreveu recentemente o desafio dessa etapa do desenvolvimento humano como "uma tempestade perfeita", graças ao aumento súbito e simultâneo de "alterações hormonais, neurais, sociais e de pressões da vida". 
À lista, ela poderia perfeitamente ter acrescentado "mudanças de personalidade".
Ao longo da infância, nossa personalidade e temperamento se consolidam à medida que adotamos um modo de pensar, agir e sentir mais consistente. A solidificação da personalidade volta a ser reforçada novamente no fim da adolescência até a chegada da idade adulta.
Mas, na fase intermediária - ou seja, na adolescência -, essa tendência é interrompida. O caleidoscópio da personalidade é chacoalhado, e onde as peças vão se posicionar é profundamente importante. Estudos de longo prazo mostram que características que surgem durante a adolescência anteveem uma série de acontecimentos no decorrer da vida, incluindo sucesso acadêmico e risco de desemprego.
As pesquisas sobre o tema ainda são incipientes, mas as possíveis conclusões são instigantes e relevantes. Ao entender mais sobre as forças que moldam a personalidade dos adolescentes, podemos possivelmente intervir e ajudá-los a trilhar um caminho mais saudável e bem-sucedido.
A mudança de personalidade não é exclusiva da adolescência. Se você diminuir um pouco o zoom e olhar para da vida toda, vai observar que há, em geral, um aumento nos traços de personalidade desejáveis - menos angústia, maior autocontrole, cabeça menos fechada, mais simpatia.
Os psicólogos chamam isso de "princípio da maturidade". Se você tem 20 e poucos anos, é inseguro e ansioso, pode ser reconfortante saber que, pelo padrão, ao envelhecer, você vai ficar mais tranquilo.
Não se pode dizer o mesmo, no entanto, sobre os pré-adolescentes, porque nessa fase entra em ação algo conhecido como a "hipótese da ruptura".
Considere um estudo realizado com milhares de adolescentes holandeses - durante a pesquisa, que teve início em 2005, eles foram submetidos desde os 12 anos a testes de personalidade anuais, por um período de seis ou sete anos. No início da puberdade, os meninos apresentaram uma redução temporária da conscienciosidade (organização e autodisciplina), enquanto as meninas manifestaram um aumento transitório do neuroticismo (instabilidade emocional). 
O resultado parece reforçar os estereótipos sobre adolescentes - quartos bagunçados e oscilações de humor. Mas, felizmente, esse retrocesso na personalidade é de curta duração, e os dados holandeses mostram que as características positivas prévias dos jovens são resgatadas no fim da adolescência.
Tanto os pais quanto os filhos concordam que ocorrem mudanças nessa fase. Mas, surpreendentemente, as alterações percebidas podem depender do ponto de vista. É o que mostrou um estudo de 2017 realizado com mais de 2,7 mil adolescentes alemães. Os jovens avaliaram a própria personalidade em dois momentos, aos 11 e aos 14 anos. Em ambas as ocasiões, os pais também analisaram a personalidade dos filhos.
Algumas diferenças foram reveladas: os adolescentes notaram, por exemplo, uma redução no grau de amabilidade, mas os pais consideravam esse declínio muito mais acentuado. Além disso, os jovens se achavam cada vez mais extrovertidos, enquanto os pais acreditavam que eles estavam mais introvertidos.
"Os pais, de uma maneira geral, observaram que os filhos estavam menos agradáveis", interpretaram os pesquisadores. E, ao mesmo tempo, classificaram a redução da conscienciosidade dos adolescentes com menos rigor que os jovens.
A divergência pode parecer a princípio contraditória. Mas talvez possa ser explicada pelas grandes mudanças no relacionamento entre pais e filhos, desencadeadas pela demanda crescente dos adolescentes por autonomia e privacidade. Os pesquisadores ressaltam ainda que eles podem estar usando parâmetros distintos. Enquanto os pais avaliam as características dos filhos em relação a um adulto, os jovens se comparam aos colegas.
O resultado vai na mesma linha de vários outros estudos, que também identificaram um padrão de redução transitória das características vantajosas (especialmente amabilidade e autodisciplina) no início da puberdade. A visão geral da adolescência como uma "ruptura" temporária da personalidade parece, portanto, correta. Além disso, na pesquisa alemã, pais e filhos concordaram que a amabilidade tinha diminuído, apenas discordaram sobre quanto.
Naturalmente, esses são estudos de longo prazo que analisam as mudanças de personalidade comuns entre adolescentes. Esse tipo de dado no âmbito de grupos mascara a quantidade de variação individual que existe de um adolescente para outro. Na verdade, estamos apenas começando a entender a intrincada mistura de fatores genéticos e ambientais que contribuem para os padrões individuais de mudança de personalidade.
O cérebro adolescente é um bom ponto de partida. Nas últimas duas décadas, Sarah-Jayne Blakemore e outros especialistas mostraram como o desenvolvimento dos jovens é marcado por importantes mudanças no cérebro, incluindo uma "poda" do excesso de massa cinzenta, associada à aprendizagem.
Esse fator poderia contribuir para os padrões de mudança da personalidade na adolescência, de acordo com um estudo norueguês de 2018, baseado em imagens cerebrais. Os pesquisadores examinaram os cérebros de dezenas de jovens duas vezes, ao longo de um período de dois anos e meio, e pediram que os pais avaliassem as personalidades dos filhos em ambas as ocasiões.
Eles descobriram que quem tinha pontuações mais altas em termos de conscienciosidade apresentava uma taxa maior de afinamento da área cortical em várias regiões do cérebro - sinal de uma "poda" mais eficiente da massa cinzenta e maior maturidade. O mesmo foi observado em relação às avaliações mais altas no quesito estabilidade emocional.
Essa linha de pesquisa ainda é nova, mas, segundo os cientistas, os resultados sugerem que "grandes variações individuais nos traços de personalidade podem estar parcialmente relacionadas à maturação cortical durante a adolescência". Em outras palavras, a forma como a nossa massa cinzenta muda na adolescência pode afetar a maneira como nos sentimos e nos comportamos.
É claro que fatores externos, como situações de estresse ou adversidade, também estão intrinsecamente ligados a qualquer mudança de personalidade nessa fase. E é evidente que ser adolescente traz ansiedade. No entanto, pesquisas mostram que determinados tipos de estresse podem ter impacto sobre mudanças específicas de personalidade. 
Em um estudo publicado em 2017, que contou com a cooperação de voluntários americanos, cientistas avaliaram a personalidade dos participantes, com idades entre oito e 12 anos, e repetiram o procedimento três, sete e dez anos depois. Em paralelo, os voluntários registraram experiências estressantes ou adversas que vivenciaram na adolescência.
A pesquisa mostrou que situações de adversidade que estavam fora do controle dos participantes - como o divórcio dos pais ou um acidente de trânsito - foram associadas ao aumento da instabilidade emocional ao longo do tempo, tanto na adolescência quanto na idade adulta.
Já quando o estresse estava diretamente relacionado às atitudes ou decisões dos participantes - como o mau comportamento que leva à expulsão da escola - teve um efeito maior na personalidade. Foi registrado não só um aumento do neuroticismo (a instabilidade emocional), mas uma diminuição da conscienciosidade e da amabilidade com o passar dos anos. 
Os pesquisadores acreditam que adversidades geradas pelas ações de um jovem podem ser consideradas mais estressantes, prejudicando assim o desenvolvimento da personalidade dele. 
Isso sugere que oferecer suporte emocional adequado aos adolescentes - especialmente aos que passam por situações de estresse - pode ajudar a combater um ciclo de mudança negativa de personalidade.
Mas nem tudo é prejudicial. Há pesquisas que apontam consequências benéficas das mudanças de personalidade dos adolescentes.
Um estudo suíço de 2013 mostra, por exemplo, que o processo de afirmação da "identidade" dos jovens - como perceber que podem agir de forma autêntica; ter o controle da própria vida e saber o que se espera deles - está associado ao desenvolvimento positivo da personalidade ao longo do tempo, incluindo maior estabilidade emocional e conscienciosidade. 
Outro estudo revelou, por sua vez, uma ligação entre a autoconfiança na escola e o desenvolvimento positivo da personalidade.
Descobertas como essas são animadoras porque oferecem pistas de como podemos criar ambientes mais estimulantes para os adolescentes, a fim de ajudar no desenvolvimento de sua personalidade. Uma abordagem em que vale a pena investir, já que os traços da personalidade na adolescência são preditivos de experiências posteriores. 
Por exemplo, um estudo britânico com mais de 4 mil adolescentes mostrou que aqueles que apresentaram uma avaliação baixa em conscienciosidade eram duas vezes mais propensos a ficar desempregados no futuro, em comparação com quem conseguiu pontuações altas no mesmo quesito.
Nós nos concentramos muito em fazer com que os adolescentes estudem e passem no vestibular. Mas talvez devêssemos focar também em ajudar a cultivar suas personalidades. Pensando nos meus gêmeos, essa é uma área de pesquisa que quero acompanhar de perto.
Fonte: BBC Brasil