Em 2018, 53,7% das famílias negaram a
doação de órgãos/tecidos em Pernambuco
Por Rebeka Gonçalves
Durante essa semana, a
Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE)
participa
de atividades em alusão ao Dia Nacional de Doação de Órgãos. Ontem (26/09), a coordenadora
da CT-PE, Noemy Gomes, realizou uma exposição dos números de transplantes
realizados em Pernambuco, em 2018. O evento aconteceu no Imip e contou com
apresentação do coral João Emiliano, da Associação de Pacientes Renais.
Segundo a Secretaria
Estadual de Saúde (SES), entre janeiro e agosto, Pernambuco conseguiu efetivar
315 transplantes de rim. O quantitativo é 22% maior do que o mesmo período de
2017, quando foram realizados 259 procedimentos. O rim é o órgão que possui a
maior fila de espera no Estado, com 794 pacientes.
Noemy Gomes destaca uma
das maiores dificuldades para a realização do procedimento: “Um dos maiores
desafios é fazer com que o percentual de recusa familiar para a doação de
órgãos reduza a cada ano. Para isso, estamos investindo nos treinamentos e
capacitações para profissionais de saúde, inclusive para os que não estão
envolvidos diretamente no processo da doação, mas atuam na área da assistência
das unidades hospitalares. Temos equipes captadoras e transplantadoras de
órgãos e tecidos treinadas e à disposição o ano inteiro para realizar todo o
processo. Contudo, só conseguimos efetivar um transplante se tivermos um sim de
alguma família”, ressalta.
Hoje,
o Real Hospital Português (RHP) reunirá especialistas da área no II
Simpósio de Transplantes de Órgãos e Tecidos. As palestras, divididas em quatro
módulos, tratarão dos desafios enfrentados pelos profissionais envolvidos no
processo. A coordenadora da CT-PE participará do 2º Módulo -Os Desafios que
antecedem a realização dos transplantes- com a apresentação “A procura e a
distribuição de órgãos e tecidos”.
Entretanto, nada disso
adianta sem o apoio dos familiares que perdem seus entes queridos. Os dados da Central
mostram que no primeiro semestre desse ano, as Organizações de Procura de Órgãos
(OPOs) e Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos (Cihdotts) realizaram
227 entrevistas com familiares de pacientes com diagnóstico de morte
encefálica. Desse total, 122 famílias autorizaram a doação do órgão/tecido do
seu ente (53,74%) e 105 recusaram (46,26%). Nos meses de julho e agosto, a
CT-PE registou os menores percentuais de recusa, de 34% e 29%,
respectivamente.
O transplantado e
integrante do coral da Associação de Pacientes Renais, José Nailson da Silva,
fala da importância de receber um rim novo: “Tenho na minha família pessoas com
problemas renais. Fui uma delas, e no período de espera por um rim novo
realizei procedimentos de hemodiálise e diálise peritoneal. Vivi essa situação
por 16 anos e esperei por tanto tempo que achei que não chegaria a minha vez,
mas graças à decisão do meu doador consegui mudar essa situação”, relata.
Morte encefálica
“Este
ano, um dos nossos avanços foram as capacitações sobre morte encefálica para
mais de 190 médicos da rede estadual, onde abordamos, além do protocolo, a
importância do acolhimento e entrevista familiar após confirmada a morte
encefálica do paciente", ressaltou Noemy.
A morte encefálica acontece
quando o cérebro perde a capacidade de comandar as funções do corpo, como
consequência de uma lesão conhecida e comprovada. Nesse caso, o paciente é
um potencial doador de órgãos sólidos e tecidos - coração, rins, pâncreas,
fígado e córneas – já que, apesar de não haver mais atividade cerebral, os
órgãos continuam em funcionamento com a ajuda de aparelhos. De acordo com
resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), atualizada no final de 2017, o
diagnóstico de morte encefálica deve ser iniciado em todos os pacientes
que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e
apneia persistente.
A
morte deve ser atestada por dois médicos não participantes das equipes de
remoção e de transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos definidos. Além do exame clínico, com um intervalo mínimo de
uma hora entre o primeiro e o segundo, o paciente deve ser submetido a um teste
de apneia e a exames complementares. Entre os exames a serem realizados,
podem ser feitas a angiografia cerebral, o eletroencefalograma, o doppler
transcraniano e a cintilografia. O laudo deve ser assinado por profissional com
comprovada experiência e capacitação para a realização desse tipo de exame.
Córnea zero
Desde
julho de 2017, Pernambuco retomou o status de córnea zero. Isso não
significa ausência de pessoas em fila de espera, mas que todo paciente que
tiver indicação para um transplante de córnea, depois de realizar os
exames necessários para ser inscrito na fila de espera, fará o
procedimento em até 30 dias.
Em
2018, já foram realizados 529 transplantes do tecido (696 em 2017). Entre
os hospitais captadores, destaca-se o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP),
em primeiro lugar com 127 doações, seguido do Imip (78), Hospital da
Restauração (64) e Hospital Mestre Vitalino (54).
Você pode salvar uma vida
De
acordo com o último balanço da CT-PE, 1.067 pessoas estão em fila de espera por
um órgão ou tecido. O maior quantitativo é para rim (794), seguido de fígado
(117), córnea (111), medula óssea (29), coração (11) e rim/pâncreas (5).
Coração, fígado, rim, pâncreas são doados quando há a morte encefálica do
paciente. Mas, o rim e parte do fígado também podem ser doados em vida.
“Receber
essa doação representou tudo para mim. Solicito às pessoas que autorizem a
doação dos órgãos e que comuniquem as suas famílias dessa decisão, pois esse
gesto salva mesmo uma vida”, conclui José Nailson.
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