quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Doação de Órgãos: Recusa familiar ainda é o grande entrave para a realização dos transplantes


Em 2018, 53,7% das famílias negaram a doação de órgãos/tecidos em Pernambuco
Por Rebeka Gonçalves
Durante essa semana, a Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE) participa de atividades em alusão ao Dia Nacional de Doação de Órgãos. Ontem (26/09), a coordenadora da CT-PE, Noemy Gomes, realizou uma exposição dos números de transplantes realizados em Pernambuco, em 2018. O evento aconteceu no Imip e contou com apresentação do coral João Emiliano, da Associação de Pacientes Renais. 
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), entre janeiro e agosto, Pernambuco conseguiu efetivar 315 transplantes de rim. O quantitativo é 22% maior do que o mesmo período de 2017, quando foram realizados 259 procedimentos. O rim é o órgão que possui a maior fila de espera no Estado, com 794 pacientes. 
Noemy Gomes destaca uma das maiores dificuldades para a realização do procedimento: “Um dos maiores desafios é fazer com que o percentual de recusa familiar para a doação de órgãos reduza a cada ano. Para isso, estamos investindo nos treinamentos e capacitações para profissionais de saúde, inclusive para os que não estão envolvidos diretamente no processo da doação, mas atuam na área da assistência das unidades hospitalares. Temos equipes captadoras e transplantadoras de órgãos e tecidos treinadas e à disposição o ano inteiro para realizar todo o processo. Contudo, só conseguimos efetivar um transplante se tivermos um sim de alguma família”, ressalta. 
Hoje, o Real Hospital Português (RHP) reunirá especialistas da área no II Simpósio de Transplantes de Órgãos e Tecidos. As palestras, divididas em quatro módulos, tratarão dos desafios enfrentados pelos profissionais envolvidos no processo. A coordenadora da CT-PE participará do 2º Módulo -Os Desafios que antecedem a realização dos transplantes- com a apresentação “A procura e a distribuição de órgãos e tecidos”.   
Entretanto, nada disso adianta sem o apoio dos familiares que perdem seus entes queridos. Os dados da Central mostram que no primeiro semestre desse ano, as Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) e Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos (Cihdotts) realizaram 227 entrevistas com familiares de pacientes com diagnóstico de morte encefálica. Desse total, 122 famílias autorizaram a doação do órgão/tecido do seu ente (53,74%) e 105 recusaram (46,26%). Nos meses de julho e agosto, a CT-PE registou os menores percentuais de recusa, de 34% e 29%, respectivamente.  
O transplantado e integrante do coral da Associação de Pacientes Renais, José Nailson da Silva, fala da importância de receber um rim novo: “Tenho na minha família pessoas com problemas renais. Fui uma delas, e no período de espera por um rim novo realizei procedimentos de hemodiálise e diálise peritoneal. Vivi essa situação por 16 anos e esperei por tanto tempo que achei que não chegaria a minha vez, mas graças à decisão do meu doador consegui mudar essa situação”, relata. 
Morte encefálica 
“Este ano, um dos nossos avanços foram as capacitações sobre morte encefálica para mais de 190 médicos da rede estadual, onde abordamos, além do protocolo, a importância do acolhimento e entrevista familiar após confirmada a morte encefálica do paciente", ressaltou Noemy.
A morte encefálica acontece quando o cérebro perde a capacidade de comandar as funções do corpo, como consequência de uma lesão conhecida e comprovada. Nesse caso, o paciente é um potencial doador de órgãos sólidos e tecidos - coração, rins, pâncreas, fígado e córneas – já que, apesar de não haver mais atividade cerebral, os órgãos continuam em funcionamento com a ajuda de aparelhos. De acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), atualizada no final de 2017, o diagnóstico de morte encefálica deve ser iniciado em todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia persistente.
A morte deve ser atestada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e de transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos. Além do exame clínico, com um intervalo mínimo de uma hora entre o primeiro e o segundo, o paciente deve ser submetido a um teste de apneia e a exames complementares. Entre os exames a serem realizados, podem ser feitas a angiografia cerebral, o eletroencefalograma, o doppler transcraniano e a cintilografia. O laudo deve ser assinado por profissional com comprovada experiência e capacitação para a realização desse tipo de exame.
Córnea zero  
Desde julho de 2017, Pernambuco retomou o status de córnea zero. Isso não significa ausência de pessoas em fila de espera, mas que todo paciente que tiver indicação para um transplante de córnea, depois de realizar os exames necessários para ser inscrito na fila de espera, fará o procedimento em até 30 dias.
Em 2018, já foram realizados 529 transplantes do tecido (696 em 2017). Entre os hospitais captadores, destaca-se o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), em primeiro lugar com 127 doações, seguido do Imip (78), Hospital da Restauração (64) e Hospital Mestre Vitalino (54).
Você pode salvar uma vida 
De acordo com o último balanço da CT-PE, 1.067 pessoas estão em fila de espera por um órgão ou tecido. O maior quantitativo é para rim (794), seguido de fígado (117), córnea (111), medula óssea (29), coração (11) e rim/pâncreas (5). Coração, fígado, rim, pâncreas são doados quando há a morte encefálica do paciente. Mas, o rim e parte do fígado também podem ser doados em vida.
“Receber essa doação representou tudo para mim. Solicito às pessoas que autorizem a doação dos órgãos e que comuniquem as suas famílias dessa decisão, pois esse gesto salva mesmo uma vida”, conclui José Nailson.

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário