sábado, 28 de julho de 2018

Artigo: Ética, bom senso e educação digital para combater as Fake News


Por Rosa Miranda e Cristiane Sales, em artigo publicado no Blog do Jamildo
O termo “pós-verdade” foi escolhido como a palavra do ano 2016 pelos dicionários britânicos Oxford, vocábulo que surgiu no contexto do ‘Brexit’ (saída britânica da União Europeia) e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Segundo a definição dos dicionários Oxford, pós-verdade (“post-truth” em inglês) é um adjetivo que faz referência a “circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais”.
O surgimento da palavra pós-verdade na linguagem foi “alimentada pela ascensão das redes sociais como fonte de informação e a crescente desconfiança face aos factos apresentados pelo poder estabelecido”, dizem os editores dos dicionários, que explicaram ainda que o prefixo “pós” não é utilizado exclusivamente para referir uma situação ou um acontecimento específico posterior, como pós-guerra, mas também para salientar a rejeição ou irrelevância de um conceito.
Vivemos numa época em que o excesso de informações torna difícil distinguir as notícias verdadeiras das falsas. Cada vez mais o cidadão tem usado a internet como fonte de conhecimento sobre os mais diversos tipos de assuntos, porém, como saber se a fonte é confiável? Atualmente, 40% da população mundial usam as redes sociais. No Brasil, são cerca de 78,3 milhões de pessoas. Elas exponencializaram ainda mais o ritmo da disseminação de notícias falsas, as chamadas fake news. São notícias difíceis de serem identificadas, que aparentam ser verdadeiras, que em algum grau poderiam ser verdade ou que remontam situações para tentar se mostrarem confiáveis.
Não são apenas aquelas irônicas com o intuito de serem engraçadas e chamar a atenção do leitor, muitas vezes buscam disseminar boatos e inverdades, com informações que não são 100% corretas. As redes sociais alavancam as fake news por dois motivos principais: velocidade de circulação e por questões mercadológicas.
Infelizmente, estamos vivendo numa era em que os interesses pessoais, comerciais se sobrepõem às questões éticas, sociais. Destacamos não só os sites, blogs e redes de credibilidade duvidosa mas, sobretudo, meios de comunicação de referência no país e no mundo com posturas equivocadas. As mesmas regras éticas que regem os jornalistas profissionais devem guiar qualquer tipo de controle das fake news. O código de ética dos jornalistas e a lei de acesso à informação são padrões de comportamento que devem ser observados e praticados por todos que divulgam ou compartilham notícias. Informações inverídicas são comparáveis aos crimes virtuais, ou seja, devem seguir as mesmas regras e punições.
Vale ressaltar que os riscos desse tipo de informação no âmbito da saúde podem ser fatais. Uma pesquisa realizada pela Rock Health revelou que 71% dos entrevistados disseram procurar por informações online sobre saúde. Em abril deste ano, o Ministério da Saúde fez um alerta sobre a divulgação de notícias falsas sobre a circulação do vírus da influenza H2N3 no país. Segundo a instituição, um áudio estava se espalhando nas redes sociais e aplicativos de smartphones com informações inverídicas, o que poderia gerar um pânico desnecessário entre os brasileiros.
Recentemente, a revista Veja publicou na matéria de capa da edição 2590, de julho de 2018, o resultado de uma pesquisa feita em seis páginas do Facebook com publicações com altos números de compartilhamento de notícias com fórmulas “milagrosas” relacionadas com a saúde. O cenário é estarrecedor e pode ter consequências gravíssimas à saúde da população. Mas, o dado mais preocupante está relacionado com a velocidade de disseminação das redes, já citada anteriormente. Segundo um estudo do Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, realizado em dezembro de 2016, 60% dos entrevistados confirmaram que compartilham notícias pelas redes sociais depois de ler apenas a manchete.
Para além das fake news, é preciso lembrar também a responsabilidade da imprensa ao divulgar informações que podem gerar pânico na população desnecessariamente e tirar a credibilidade de pessoas e/ou instituições. Como exemplo, citamos a reportagem de capa publicada na revista Superinteressante, edição 391 de julho deste ano, que aborda a questão do erro médico apresentando dados alarmantes sobre a atuação desses profissionais. A revista foi amplamente criticada por diversas instituições, entre elas o Conselho Federal de Medicina que afirma que a reportagem trata “casos específicos como se fossem a regra, o que gera impacto negativo na relação médico-paciente” e que “os trabalhos citados se baseiam em projeção de dados com limites reconhecidos pelos seus autores e que, portanto, não permitem extrapolar resultados, como foi feito”. Não estamos aqui querendo dizer que os erros médicos não existem, mas alertar para que as matérias sejam apuradas com maior rigor.
Sabemos que a objetividade é um mito, sempre tivemos uma verdade relativa ou uma meia verdade, mas existem técnicas para se chegar o mais perto possível dela. Decisões que afetam o destino de milhões de seres humanos merecem uma avaliação mais apurada e responsável. Assim, o BOM SENSO precisa ser compartilhado e uma EDUCAÇÃO DIGITAL pode evitar e prevenir crises desencadeadas pelas fake news.

Artigo original no site jblogs.ne10.uol.com.br, disponível aqui.

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