Por
Rosa Miranda e Cristiane Sales, em artigo publicado no Blog do Jamildo
O termo “pós-verdade” foi
escolhido como a palavra do ano 2016 pelos dicionários britânicos Oxford,
vocábulo que surgiu no contexto do ‘Brexit’ (saída britânica da União Europeia)
e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Segundo a definição dos
dicionários Oxford, pós-verdade (“post-truth” em inglês) é um adjetivo que faz
referência a “circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na
formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões
pessoais”.
O surgimento da palavra
pós-verdade na linguagem foi “alimentada pela ascensão das redes sociais como
fonte de informação e a crescente desconfiança face aos factos apresentados
pelo poder estabelecido”, dizem os editores dos dicionários, que explicaram
ainda que o prefixo “pós” não é utilizado exclusivamente para referir uma
situação ou um acontecimento específico posterior, como pós-guerra, mas também
para salientar a rejeição ou irrelevância de um conceito.
Vivemos numa época em que
o excesso de informações torna difícil distinguir as notícias verdadeiras das
falsas. Cada vez mais o cidadão tem usado a internet como fonte de conhecimento
sobre os mais diversos tipos de assuntos, porém, como saber se a fonte é
confiável? Atualmente, 40% da população mundial usam as redes sociais. No
Brasil, são cerca de 78,3 milhões de pessoas. Elas exponencializaram ainda mais
o ritmo da disseminação de notícias falsas, as chamadas fake news. São notícias
difíceis de serem identificadas, que aparentam ser verdadeiras, que em algum
grau poderiam ser verdade ou que remontam situações para tentar se mostrarem
confiáveis.
Não são apenas aquelas
irônicas com o intuito de serem engraçadas e chamar a atenção do leitor, muitas
vezes buscam disseminar boatos e inverdades, com informações que não são 100%
corretas. As redes sociais alavancam as fake news por dois motivos principais:
velocidade de circulação e por questões mercadológicas.
Infelizmente, estamos
vivendo numa era em que os interesses pessoais, comerciais se sobrepõem às
questões éticas, sociais. Destacamos não só os sites, blogs e redes de
credibilidade duvidosa mas, sobretudo, meios de comunicação de referência no
país e no mundo com posturas equivocadas. As mesmas regras éticas que regem os
jornalistas profissionais devem guiar qualquer tipo de controle das fake news.
O código de ética dos jornalistas e a lei de acesso à informação são padrões de
comportamento que devem ser observados e praticados por todos que divulgam ou
compartilham notícias. Informações inverídicas são comparáveis aos crimes
virtuais, ou seja, devem seguir as mesmas regras e punições.
Vale ressaltar que os
riscos desse tipo de informação no âmbito da saúde podem ser fatais. Uma
pesquisa realizada pela Rock Health revelou que 71% dos entrevistados disseram
procurar por informações online sobre saúde. Em abril deste ano, o Ministério
da Saúde fez um alerta sobre a divulgação de notícias falsas sobre a circulação
do vírus da influenza H2N3 no país. Segundo a instituição, um áudio estava se
espalhando nas redes sociais e aplicativos de smartphones com informações
inverídicas, o que poderia gerar um pânico desnecessário entre os brasileiros.
Recentemente, a revista
Veja publicou na matéria de capa da edição 2590, de julho de 2018, o resultado
de uma pesquisa feita em seis páginas do Facebook com publicações com altos
números de compartilhamento de notícias com fórmulas “milagrosas” relacionadas
com a saúde. O cenário é estarrecedor e pode ter consequências gravíssimas à
saúde da população. Mas, o dado mais preocupante está relacionado com a
velocidade de disseminação das redes, já citada anteriormente. Segundo um
estudo do Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, realizado em dezembro
de 2016, 60% dos entrevistados confirmaram que compartilham notícias pelas
redes sociais depois de ler apenas a manchete.
Para além das fake news,
é preciso lembrar também a responsabilidade da imprensa ao divulgar informações
que podem gerar pânico na população desnecessariamente e tirar a credibilidade
de pessoas e/ou instituições. Como exemplo, citamos a reportagem de capa
publicada na revista Superinteressante, edição 391 de julho deste ano, que
aborda a questão do erro médico apresentando dados alarmantes sobre a atuação
desses profissionais. A revista foi amplamente criticada por diversas
instituições, entre elas o Conselho Federal de Medicina que afirma que a
reportagem trata “casos específicos como se fossem a regra, o que gera impacto
negativo na relação médico-paciente” e que “os trabalhos citados se baseiam em
projeção de dados com limites reconhecidos pelos seus autores e que, portanto,
não permitem extrapolar resultados, como foi feito”. Não estamos aqui querendo
dizer que os erros médicos não existem, mas alertar para que as matérias sejam
apuradas com maior rigor.
Sabemos que a
objetividade é um mito, sempre tivemos uma verdade relativa ou uma meia
verdade, mas existem técnicas para se chegar o mais perto possível dela.
Decisões que afetam o destino de milhões de seres humanos merecem uma avaliação
mais apurada e responsável. Assim, o BOM SENSO precisa ser compartilhado e uma
EDUCAÇÃO DIGITAL pode evitar e prevenir crises desencadeadas pelas fake news.
Artigo original no site
jblogs.ne10.uol.com.br, disponível aqui.
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