Por
Ayman Al-Juzi/BBC
O
casal Adam e Dunia, da Inglaterra, já está há três anos combinando sexo com maconha.
"Às vezes, eu uso para acabar com minha ansiedade no quarto", diz
ela. Você pode estar imaginando a cena de um casal fumando maconha na cama, mas
trata-se de outra coisa.
"Um
dos meus produtos favoritos não é psicoativo. É um spray que eu aplico nas
minhas áreas íntimas. Eu sinto a região aquecida e confortável, de uma maneira
diferente", conta Dunia.
Eles
são parte de um grupo crescente de pessoas que estão buscando produtos à base
de cannabis para potencializar suas experiências sexuais. São cremes, sprays,
velas, óleos ou flores – muitos deles não são psicoativos, ou seja, não alteram
a consciência.
"Quando
eu uso cannabis, eu me liberto de pensamentos de baixa autoestima. Meu corpo e
minha mente vão para um lugar de paz", diz Dunia.
O
uso da maconha para acentuar a experiência sexual não é de hoje. As mulheres do
Antigo Egito já aplicavam um mel com infusão de cannabis nos órgãos sexuais.
Alguns hindus acreditavam no poder afrodisíaco de uma infusão de cannabis,
chamada de bhang lassi.
Com
o afrouxamento de leis relativas à maconha em alguns lugares do mundo, a
quantidade de interessados nesses produtos está crescendo. Fabricantes nos
Estados Unidos, por exemplo, relatam dificuldades para dar conta dos pedidos –
vindos do Brasil, inclusive.
Segundo
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a compra de produtos
importados à base de cannabis não é ilegal, desde que acompanhada de uma receita
médica informando a indicação terapêutica. Caso contrário, pode configurar
tráfico de drogas.
Mulheres relatam mais prazer
Ashley
Manta, terapeuta sexual na Califórnia, tem uma clínica de terapia e educação
sexual baseada nos supostos poderes da maconha – que é lícita no Estado
americano.
"Eu
ajudo as pessoas a assumirem o controle de suas vidas sexuais, melhorando suas
experiências a partir do uso dessa planta milagrosa chamada cannabis",
disse ela à BBC.
Na
clínica, o uso de cannabis é discutido cuidadosamente: quando usar, qual a
dosagem indicada e métodos de consumo.
"Trata-se
de combinar cannabis e sexo atentamente, escolhendo os produtos e marcas que
você quer consumir ou aplicar no seu corpo para aumentar o prazer e a
intimidade e elevar a sensação de conforto e confiança", explica a
terapeuta.
Ashley,
que já experimentou os produtos, diz que a experiência é muito prazerosa para
as mulheres. "Há muitos produtos feitos para a vulva (parte externa dos
órgãos femininos), como sprays e cremes, por causa da forma que o órgão parece
absorver as substâncias presentes na cannabis."
Porém,
ninguém realmente estudou se a vagina absorve de fato a cannabis. Há apenas
relatos de mulheres, muitos deles positivos.
"Meu
produto favorito é o óleo spray de cannabis. Depois de deixar o óleo em contato
com minha vulva por cerca de 20 minutos, sinto um calor ou formigamento, sinto
mais conforto com a penetração e mais facilidade para atingir os orgasmos, que
também são mais intensos."
Efeito pode ser negativo para homens
Enquanto
Dunia usa produtos à base de cannabis, seu parceiro Adam gosta de fumar antes
do sexo. "Eu acho que é um grande afrodisíaco", diz ele.
"Intensifica as sensações e aumenta a duração do prazer."
Porém,
a despeito dos efeitos positivos que Adam sente, alguns estudos demonstraram
que a cannabis pode surtir impactos negativos na performance sexual dos homens.
Uma
pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Medicina Sexual, em 2011,
apontou que a maconha tinha um efeito inibitório em alguns receptores dos
tecidos eréteis.
Outro
estudo mostrou que homens que consomem maconha diariamente têm duas vezes mais
chance de ter disfunção erétil.
Médico recomenda cautela
Mark
Lawton, porta-voz da Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV, acredita que
as pessoas devem ser cautelosas sobre o uso de drogas durante o sexo.
"Substâncias
como cannabis, assim como o álcool, podem prejudicar a capacidade de
julgamento. Nós sabemos que o uso de camisinha, por exemplo, geralmente diminui
quando as pessoas bebem ou usam drogas recreativas antes ou durante o sexo. Sob
os efeitos da substância, a pessoa pode tomar escolhas que não tomaria de outra
forma", considera o médico.
"É
preciso ter um pouco de cuidado em relação a substâncias que reduzem a
inibição, porque algumas pessoas podem tentar tirar vantagem", acrescenta.
Alguns
produtos usados por mulheres, no entanto, não são psicoativos, gerando efeitos
físicos apenas no local de aplicação.
Além
disso, o médico reconhece que pode haver espaço para a cannabis nas práticas
sexuais. "Há cada vez mais informações sobre alguns componentes da
cannabis e seus benefícios médicos. Então, pode ser uma área de pesquisa no
futuro."
"Precisamos
de mais pesquisa científica e dados", afirma Ashley Manta. "Por
enquanto, temos muitas informações baseadas em experiências práticas. Mas, se
já é muito difícil que governos financiem estudos relacionados a maconha e
câncer, então imagine o estudo da relação entre cannabis e sexo."
Para
a terapeuta sexual, a planta também pode ajudar a tratar traumas sexuais.
Durante muito tempo, Ashley sentiu dor durante a penetração. Foi o spray de
cannabis, segundo ela, que ajudou a reverter o quadro. "Eu sobrevivi a uma
agressão sexual. A cannabis me ajudou a lidar com o transtorno de estresse
pós-traumático e com alguns sintomas físicos associados", diz.
Matéria
original no site da BBC Brasil, disponível aqui.
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