“Todos os anos, temos até 2,5 mil
mutilados”, afirma o secretário de Saúde de Pernambuco.
Por
Rebeka Gonçalves
No
primeiro semestre deste ano, a Seguradora Líder, responsável pelo pagamento do
Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre
(DPVAT), demonstrou que 88% das indenizações por morte em acidentes com
motocicletas foram para vítimas do sexo masculino, na faixa etária entre 18 e
34 anos, 79% das vítimas sofreram sequelas permanentes.
O
montador automotivo, Luiz Roberto Dornelas relata como foi vítima de um
acidente de moto, aos 28 anos: “Estava conduzindo a moto até outro bairro para
levar meu irmão, na metade do percurso me deparei com três ladrões, em um
retorno, eu seguiria em linha reta e eles iriam entrar na pista, eles esperaram
eu me aproximar e jogaram a Kombi em cima de mim, não tive como desviar e eles
bateram em minha lateral esmagando a minha perna. E os três ainda saíram
sorrindo e foram embora”, relembra.
Luiz
Roberto sofreu uma fratura exposta, seguida de infecção, perda de parte da pele
e músculos, além de 19 cm do osso medial da perna esquerda – conhecido como Tíbia
ou osso da canela.
O
ortopedista do Hospital Miguel Arraes, Fagner Athayde revelou que esses casos
são comuns na unidade de saúde: “Com relação a realidade do hospital onde
trabalho, 70,5% dos acidentes de trânsito envolvem motocicleta. E o volume
desses dados se concentram mais nas fraturas de dedos do pé por falta do uso de
calçados. Mas os traumas vão desde os de cabeça, tornozelo, perna, coxa até
abdômen”, afirma.
Já
se passaram mais de seis anos do acidente, mas Luiz Roberto ainda continua no
tratamento com o fixador ilizarov – conhecido como gaiola, sem previsão de
retirada. “Os fixadores externos são usados em cirurgias corretivas ou para
tratamento de traumas, mantendo a redução de ossos fraturados e estabilizando
estruturas ósseas ou adjacentes, a fim de proporcionar a fusão óssea ou
correção da mesma, sendo retirados após o cumprimento dos objetivos. Os
componentes dos fixadores são fabricados em aço inoxidável e alumínio”, explica
o ortopedista.
Luiz
Roberto segue tentando superar o trauma. “Eu deixo levar um dia após o outro e
estou superando isso tudo muito bem, nunca me deixei abalar totalmente, tiveram
dias de olhar e ver todas as coisas que eu fazia, e não consigo fazer mais e
ficava muito amargurado e triste. Na maioria das vezes, sempre estive com a
autoestima elevada e o pensamento que isso é só um momento e nunca vou desistir,
tenho na minha vida pessoas que sofreram e me ajudaram a superar tudo isso”, relata.
Pernambuco tem alto índice de
acidentes
A
região Nordeste concentrou 36% das indenizações por morte e invalidez permanente
por acidentes com motocicletas no último semestre. As motos representam 44% da
frota de veículos da região, enquanto que no Brasil representam 27%, de acordo
com a seguradora.
Por
ano, Pernambuco gasta R$ 600 milhões de reais com isso, quase quatro vezes mais
do que a verba destinada a todo o gasto com câncer. “Esse é com certeza o maior
problema de saúde pública do Brasil. Para além das mortes, há a questão das
mutilações. Todos os anos, temos até 2,5 mil mutilados”, afirma o secretário de
Saúde de Pernambuco, Iran Costa.
Uma
possível solução de acordo com o pesquisador do Observatório das Metrópoles,
Juciano Rodrigues seria: “Um planejamento de transporte que priorizasse os
meios coletivos em detrimento dos meios individuais de transporte. Além de uma
política de redução de limites de velocidade é um dos principais mecanismos
para a diminuição de acidentes. Nesse sentido, qualquer solução tem que ser
sistêmica, com um olhar para o sistema de mobilidade urbana como um todo”,
expõe.
Prevenção
“Sempre
falei para meus amigos, moto é um veículo bom, mas temos que andar sempre muito
atentos e nunca deixar de ser prudente, pois você mesmo andando certo pode ter
uma pessoa ao seu lado mal-intencionada, ou bêbada, ou até mesmo um acidente.
Sempre alertei para os riscos que correm quando se está em cima de uma moto,
porque é tudo muito rápido e dificilmente você sairá ileso de um acidente”,
alerta.
Outras
precauções também foram dadas pelo ortopedista Fagner como uma atitude
defensiva no trânsito: “isso vale para todos os veículos obviamente. Mas, em
especial ao motociclista por sua condição mais vulnerável que a dos ocupantes
de automóveis. Vemos no dia-a-dia das emergências uma fração muito importante
dos acidentes envolvendo pessoas sob efeito de bebida alcoólica e outras tantas
atitudes imprudentes como excesso de velocidade, pilotar no acostamento,
ciclofaixas”, orienta o médico.
A
segunda forma de prevenção para o profissional de saúde seria o uso não só do
capacete como também de sapatos fechados: “o uso de equipamento individual de
proteção, refiro-me a mais do que apenas o uso do capacete - equipamento
imprescindível e salvador de vidas - mas também coisas que não damos
importância mas alteram sobremaneira a gravidade das lesões e o tempo de
internamento como o uso de sapatos fechados. A experiência mostra que, mesmo
que não seja capaz de impedir uma fratura em colisões mais graves, o uso de
sapatos resistentes, “joelheiras” e “cotoveleiras” podem reduzir em muito as
ditas “lesões de partes moles” e consequentemente diminuindo o tempo de
internamento e complicações do trauma inicial”, recomenda.
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário