Segundo estudo, 71,6% deles já
sofreram agressão física ou verbal
Uma
pesquisa realizada com enfermeiros, médicos e farmacêuticos do estado de São
Paulo mostra que 71,6% desses profissionais já sofreram agressão física ou
verbal no ambiente de trabalho. Falta de estrutura, filas e demora no
atendimento são apontados como principais motivos.
O
estudo encomendado pelos conselhos regionais das categorias entrevistou 6.832
profissionais (4.107 enfermeiros, 1.640 médicos e 1.085 farmacêuticos) em
agosto deste ano. Diante dos dados preocupantes, os conselhos
lançaram hoje (18) uma campanha, que será veiculada na mídia com
objetivo de conscientizar a população.
Entre
os enfermeiros, 21,1% foram vítimas de agressão física e 90,9% sofreram
agressão verbal. O percentual de vítimas de agressão física é de 18,3% entre os
médicos, e 47,2% responderam ser vítimas de ofensas.
No
setor de farmácia, 7,2% já passaram por agressões físicas e 89,5% por agressões
verbais. As agressões a farmacêuticos são motivadas, sobretudo, pela negação do
fornecimento de medicamentos sem receita médica. A ausência de remédios em
farmácias do Sistema Único de Saúde (SUS) também é apontada como causa.
A
presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), Renata
Pietro, cita outras razões para as agressões. “Quando vamos conversar e
entender o motivo, a fila, o material que está faltando, as condições de
sucateamento do sistema de saúde. Esse cenário ocorre tanto na rede pública,
como na privada”, disse.
Mulheres e jovens
As
profissionais mulheres estão mais sujeitas às agressões. Elas são 84% das
vítimas em enfermagem, 57% em medicina e 77% em farmácia. Os mais jovens, com
idade até 40 anos, também são as principais vítimas por estarem, geralmente, na
linha de frente do atendimento. Em enfermagem, eles respondem por 76% dos
casos; em medicina representam 63% das situações e, em farmácia, são 84%.
Sônia
Regina Espírito Santo, 56 anos, é técnica de mobilização ortopédica há 32 anos
e trabalha num Pronto-Socorro público na cidade de Santos, litoral paulista.
Ela disse ter sofrido muitos insultos no exercício da profissão,
inclusive racistas por ser negra. Sônia contou que, certa vez, foi agredida
fisicamente por duas mulheres que acompanhavam o pai doente.
“Eu
fui tentar acalmar, porque já tínhamos chamado a polícia. Elas estavam no
centro cirúrgico, num corredor, onde tem parto e sai muita maca. Eu pedi calma.
Ali saem muitas mães com o bebê já no peito. Ela falava palavras de baixo
calão, deu um salto e caiu em cima de mim, queria me rasgar. Pegou pelo cabelo
e bateu, deu um soco na minha bacia. Eu não conseguia reagir”, lembrou Sônia.
A
cirurgiã Edwiges Dias da Rosa, 61 anos, foi agredida por um sargento da Polícia
Militar. Ela se recusou a fornecer o prontuário de uma paciente, documento
sigiloso que não pode ser entregue a terceiros, segundo a legislação. A médica
trabalhava em plantão noturno na unidade de Pronto-Atendimento de São Bernardo
do Campo. “Ele me agrediu, me machucou, me pegou pelo braço e me tirou do
atendimento a uma senhora em estado grave, que eu estava atendendo. Ele queria
me levar para a delegacia presa”, disse ela.
Hospitais
públicos, como os que Sônia e Edwiges trabalham, são onde os profissionais
estão mais vulneráveis. Entre os médicos, 75,6% das agressões ocorreram no
Sistema Único de Saúde. Entre os enfermeiros, o percentual é de 68,4% e, entre
os farmacêuticos, é de 37%.
O
presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp),
Lavínio Nilton Camarim, acredita que as agressões revelam um problema mais
profundo do sistema de saúde brasileiro. “As autoridades têm que saber, acima
de tudo, que a saúde tem que ser uma política de estado e não uma política de
governo”.
Camarim
é contra a mera construção de hospitais sem planejamento. “Não adiantar sair
construindo hospitais e postos de saúde se não tiver, depois, como tocar. Por
isso, o sucateamente está ficando cada vez maior”, criticou o presidente do
Cremesp.
Fonte: Agência Brasil
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