Cabecear uma bola de
futebol deveria ser algo restrito a jogos profissionais, e vetada para menores
de 18 anos, segundo um dos maiores especialistas do mundo em lesões cerebrais.
Bennet Omalu foi o
primeiro médico a publicar sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma
condição que tem efeitos de longo prazo e é causada por traumas repetidos na
cabeça.
"Não faz sentido
controlar com a cabeça um objeto que viaja a uma alta velocidade", diz
Omalu. "Acredito que, em algum momento, a nível profissional, precisamos
restringir cabeçadas. É perigoso."
Falando à emissora BBC
Radio 5, o neuropatologista acrescentou: "Nenhuma pessoa com menos de 18
anos deveria cabecear uma bola de futebol".
"Crianças com menos
de 12 anos deveriam jogar uma forma de futebol com menos contato entre elas.
Crianças com 12 a 18 anos poderiam jogar, mas não deveriam cabecear",
disse.
"Sei que isso é algo
difícil de aceitar para muitas pessoas, mas a ciência evolui. Nós mudamos com o
tempo. A sociedade muda. É hora de mudarmos alguns comportamentos."
Jogador teve lesão cerebral e
Alzheimer
No início dos anos 2000,
uma investigação sobre a morte do jogador Jeff Astle concluiu que ele faleceu
por conta de uma lesão cerebral causada por cabeçadas em bolas pesadas feitas
de couro.
Ele morreu em 2002, aos 59
anos, depois de sofrer do mal de Alzheimer por quase 10 anos, após uma carreira
de 18 anos no futebol.
Na quarta-feira, sua
filha, Dawn, pediu que seja investigada a relação entre a Encefalopatia
Traumática Crônica e as cabeçadas neste esporte.
"Esse é um fato
agora. Não estamos presumindo que outros jogadores podem ter morrido da mesma
doença do meu pai, isso é um fato agora", disse ela.
Seus comentários foram
feitos após a morte, em abril, do jogador Rod Taylor, que sofria desta mesma
condição.
Sua filha, Rachael
Walden, disse à BBC que cabecear não deveria ser banido, mas defende que a
Associação de Jogadores de Futebol Profissionais (PFA, na sigla em inglês) e a
Associação de Futebol, duas das principais entidades do esporte na Inglaterra,
deveriam fazer mais para apoiar ex-jogadores e suas famílias.
"A demência do meu
pai foi causada por cabeçadas e concussões. Não podemos esperar que eles morram
antes de começar a ajudá-los. Precisamos ajudá-los agora", disse ela.
"Não estamos
culpando os clubes de futebol ou os clubes pelos quais ele jogou. Temos orgulho
deles. Não se trata de mudar o esporte, mas de tentar fazer com que a PFA
assuma sua responsabilidade por seus membros na hora em que eles mais
precisam."
Outros jogadores já foram
diagnosticados com demência
Diversos ex-jogadores já
foram diagnosticados com demência, entre eles os campeões mundiais Nobby
Stiles, Martin Peters e Ray Wilson, que fizeram parte da seleção inglesa.
Ao falar sobre os efeitos
das cabeçadas, Omalu disse: "O cérebro humano flutua como um balão dentro
do crânio, então, quando você cabeceia uma bola, você sofre uma lesão cerebral.
Você machuca seu cérebro quando cabeceia a bola".
"Jogar futebol
aumentaria o risco de sofrer uma lesão cerebral quando você fica mais velho e
de desenvolver demência e encefalopatia traumática crônica."
Já houve uma série de
iniciativas para combater lesões na cabeça em esportes. No críquete, passaram a
ser admitidas substituições de jogadores que tenham sofrido concussões ou em
casos em que há uma chance de que isso possa ter ocorrido. No rugby, foi divulgado
em março um plano de ação para tornar o esporte mais seguro.
Matéria
original no site da BBC Brasil, disponível aqui.
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