A estimulação cerebral
profunda não é um tratamento novo e ainda é muito controverso. Ela surgiu em
1930, quando o neurocirurgião Wilder Penfield desenvolveu a técnica para tratar
a epilepsia. Durante o procedimento, era realizado o estímulo de diferentes
partes do cérebro com uma sonda elétrica. A ideia era manter os pacientes
acordados durante o processo, para que os médicos pudessem entender o efeito do
estímulo, identificar o problema e destruir a área problemática.
No mesmo período, o neurologista
Antonio Egas Moniz trabalhava na retirada de pequenas partes do lobo frontal do
cérebro de seus pacientes, área vital para o planejamento e a personalidade da
pessoa. A retirada e observação dessas partes do cérebro foram essenciais para
o estudo e a prática da estimulação cerebral, permitindo que neurologistas
compreendessem que áreas do cérebro podem ser beneficiadas com os eletrodos. O
procedimento foi considerado bem sucedido em vários casos e lhe rendeu um
Prêmio Nobel em 1949.
Em 2002, a estimulação
cerebral foi aprovada para o tratamento do mal de parkinson e já foi realizada em
mais de 40 mil pacientes. A aprovação desse procedimento para doentes com parkinson
abriu precedente para a utilização da técnica em pessoas com outros distúrbios,
como a depressão severa. Neste caso, a região estimulada é o núcleo accumbens, área
de recompensa do cérebro que é responsável por processar o prazer. O accumbens está
ligado à depressão porque pessoas depressivas têm um interesse reduzido pelo
prazer.
Thomas Munte,
neurologista da Universidade de Lubeck, na Alemanha, tem usado a técnica em
pacientes com depressão severa e alguns com obesidade, que não têm resultados
com outros tratamentos. Na paciente Anna, a estimulação ajudou a conter a
depressão consideravelmente e a fez perder quase 50% a mais de peso por mês
(2,8 kg), do que ela havia perdido após a cirurgia bariátrica. O neurologista afirma
que o alvo inicial era tratar a depressão e que a perda de peso era o segundo objetivo
a ser atingido.
Munte explica que algumas
pessoas são obesas devido à uma alteração no sistema de recompensa do cérebro.
Segundo o especialista, existem obesos que apresentam diferentes padrões cerebrais
quando estão diante de imagens de comidas gostosas em relação a pessoas magras.
A teoria é que o núcleo accumbens leva pessoas viciadas ao seu objeto de desejo,
podendo ser comida, álcool ou drogas.
O método utilizado para
impedir uma área do cérebro de realizar sua função ainda é uma teoria não
comprovada, porém ganha força graças a um famoso estudo com ratos feito em 1950.
"Às vezes, na medicina, você começa a fazer (procedimentos) antes de
sequer saber exatamente como funciona", afirma Munte. No caso do mal de
Parkinson, a estimulação cerebral profunda provou ter um impacto positivo muito
maior na qualidade de vida do que outros tratamentos. Talvez, em breve, seja
possível comprovar os impactos positivos no tratamento da depressão e até
obesidade.
Atualmente, existem 650
milhões de adultos e 340 milhões de crianças e adolescentes atualmente
considerados obesos no mundo. A obesidade contribui para a morte de cerca de
2,8 milhões de pessoas por ano em todo o mundo.
Contudo, Munte ressalta
que a estimulação cerebral não deve ser aplicada como tratamento generalizado
para a obesidade. Essa técnica deve ser o último recurso a ser utilizado, uma
vez que trata-se de um procedimento caro e invasivo. Ela só é indicada em pacientes
obesos com tendências aditivas (vício) em relação à comida. No caso de Anna,
ela tinha uma dupla indicação para a realização da estimulação cerebral
profunda, pois tinha depressão severa não solucionada com uso de
antidepressivos e tendências aditivas em relação a comida, diagnosticadas a
partir de vários questionários.
Com o uso mais frequente
de medicamentos como antipsicóticos e antidepressivos, o uso dessas técnicas
invasivas e irreversíveis foi reduzido, no entanto a contribuição trazida com o
estímulo dessas áreas cerebrais foi importante para o avanço da estimulação
cerebral. Embora não possa ser aplicado na maioria dos pacientes, os resultados
positivos da utilização do método demonstram que, nos casos mais severos, esse
tipo de tratamento pode ser a única saída para salvar vidas.
Fonte:
BBC Future
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