terça-feira, 5 de junho de 2018

CFM publica estudo que mostra ociosidade de 40% das vagas de residência



O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou o resultado de uma pesquisa que mostra que 40% das vagas autorizadas para programas de residência médica não foram ocupadas no país. O estudo Demografia Médica no Brasil 2018 foi desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o CFM e com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
De acordo com a publicação, foram autorizadas 58.077 vagas pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). No entanto, apenas 35.178 foram preenchidas, a diferença corresponde a 39,4% de vagas não ocupadas. Segundo o Conselho, essa ociosidade representa a distância entre a capacidade potencial e o que é possível alcançar com as condições oferecidas. 
Carlos Vital, presidente do CFM, ressalta que a formação de especialistas tem muitos problemas que preocupam a entidade. “Sob o risco de sérios prejuízos ao processo de formação de médicos especialistas – essenciais ao sistema de saúde brasileiro –, é preciso compreender melhor e superar os vários obstáculos que impedem a qualificação e o pleno preenchimento de vagas de residência médica”, alerta. 
Atualmente, cerca de 40% dos residentes estão concentrados nas especialidades de clínica médica, pediatria, cirurgia geral e ginecologia e obstetrícia. Vale destacar que a clínica médica é pré-requisito para residência em outras 12 especialidades, e cirurgia geral, para 10. 
Além disso, os médicos residentes estão distribuídos de forma desigual no território nacional. A região Sudeste tem 58,5% dos residentes inscritos em 2017, ou seja, mais da metade de todo o País. Essa tendência também é característica da distribuição dos médicos especialistas já titulados e em atividade, assim como dos não especialistas. Por sua vez, a região Sul tem 16% do total nacional. O Nordeste possui 14,2%, o Centro-Oeste, 7,2%, e o Norte tem o menor grupo de residentes 4,1%. 
De acordo com Antônio Lopes Miranda, conselheiro do Cremepe, o principal motivo da falta de adesão às residências pode estar relacionado com a questão financeira. “Possivelmente os médicos recém formados querem ganhar dinheiro e a bolsa da residência é muito baixa. Além disso, com a situação atual do país, há um desestímulo em buscar a capacitação através de residência, mestrado e doutorado. Então, muitos médicos se questionam para que se capacitar tanto e receber o mesmo que um profissional que não fez nada disso”, pondera.
Lúcio Flávio Gonzaga, conselheiro e coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, destaca que o estudo é essencial para avaliar as consequências que a desocupação das vagas pode ter na quantidade de médicos para assistir à população. “Trata-se de um trabalho de extrema importância, pois, pela primeira vez, permite à sociedade visualizar esse problema que pode ter consequências graves na oferta de médicos capacitados para atender à população em áreas específicas”, enfatiza. 
Segundo Mário Scheffer, professor da USP e coordenador do estudo, já existem algumas mudanças sendo realizadas na disponibilização das vagas com o intuito de ampliar futuramente o número de especialistas em algumas especialidades. Scheffer afirma que medicina de família e comunidade possui apenas 1,4% dos especialistas em atividade, e passou a representar 4,4% de todos os médicos residentes. Já a psiquiatria que reúne 2,7% dos especialistas, já conta com 4,1% das vagas de residência ocupadas. 
Para o professor, esse incremento é reflexo da destinação de bolsas e de políticas específicas do Ministério da Saúde, a exemplo do Programa Nacional de Apoio à Formação de Médicos Especialistas em Áreas Estratégicas (Pró-Residência), que prioriza a expansão de vagas em regiões e especialidades consideradas estratégicas para o SUS. 
Já se sabe que a oferta depende da regulamentação dessas residências, além do financiamento de bolsas, das políticas de incentivo, da capacidade das instituições e programas credenciados. Contudo, a Demografia Médica também buscou identificar os problemas que têm gerado a desocupação das vagas autorizadas pela CNRM, entre eles estão a desistência de candidatos selecionados, as falhas no registro de dados sobre a ocupação de vagas, o desinteresse dos egressos por programas de pouca tradição, as dificuldades ou atrasos de financiamento de bolsas, a menor demanda em relação à oferta em algumas especialidades, ou seja, mais vagas do que candidatos.
Para Lúcio Gonzaga, a falta de preparo adequado para acolher os alunos também interfere neste cenário. “O planejamento do programa, por vezes, se mostra incompatível com a real capacidade de implementar as vagas. É quando se percebe que não existem preceptores em quantidade suficiente ou que são inadequados os campos de prática”, alerta.

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