A chegada do inverno e o aumento
da poluição nos grandes centros urbanos propiciam uma maior incidência das manifestações
alérgicas. É também nesse período que celebra-se, anualmente, o Dia Nacional de
Prevenção da Alergia (07/05). A data foi criada com o intuito de alertar a
população para a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
Segundo dados da World
Allergy Organization (WAO), as doenças alérgicas atingem de 30% a 40% da
população mundial, sendo a rinite e a asma as mais comuns. Estes dois tipos acometem
entre 10% a 20% da população, sendo que 80% dos indivíduos com asma também têm
rinite alérgica. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 35% da
população brasileira tem alergia, doença considerada a 5ª maior causa de
internações no SUS.
A diretora científica da Associação
Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) da regional Pernambuco, Ana Caroline
Dela Bianca, explicou que a entidade local acompanha a campanha nacional da
associação que, esse ano, enfatizará a dermatite atópica através de publicidade
em outdoors. Dela Bianca lembrou que esse mês haverá também uma ação em virtude
da Semana da Imuno Deficiência.
Para marcar o Dia Nacional
de Prevenção da Alergia, o Blog Saúde e Bem Estar entrevistou a alergologista e
imunologista Ana Carla Moura, para esclarecer à população sobre a doença e quais
os cuidados necessários para prevenção. Confira a entrevista completa:
SBE
- O que é Alergia?
Ana
Carla Moura - A alergia é uma reação exagerada do
sistema imune aos alérgenos em indivíduos predispostos geneticamente, conhecida
como reação de hipersensibilidade.
SBE
- Quais os tipos de reação?
Ana
Carla Moura - As reações alérgicas podem ser
classificadas em reações IgE mediadas, não IgE mediada ou mediadas por
células.
SBE
- Quais alergias são mais comuns?
Ana
Carla Moura - Alergia Alimentar, Rinite Alérgica, Asma
Brônquica, Dermatite Atópica, Reação a Medicamentos, Alergia a picada de
insetos e Anafilaxia (reação alérgica grave que atinge vários sistemas do
corpo).
SBE
- O que pode causar?
Ana
Carla Moura - Predisposição genética juntamente com
fatores epigenéticos (modificações do genoma, mas que não envolvem uma mudança
na sequência do DNA) e sensibilização a alérgenos - alimentares ou
ambientais.
SBE
- Qual o índice de pessoas portadoras de algum tipo de alergia?
Ana
Carla Moura - Cerca de um terço da população mundial
apresenta doenças alérgicas. Nas últimas décadas, houve um aumento
significativo da prevalência de alergias, o que as tornam, definitivamente, um
problema de saúde pública e relevante impacto na qualidade de vida de crianças
e adultos.
SBE
- Existe um grupo de risco acometido com mais frequência?
Ana
Carla Moura - Principalmente, crianças e adultos
jovens, podendo ocorrer em qualquer faixa etária, inclusive idosos. O termo
marcha atópica é um conceito da evolução das doenças alérgicas, que podem
ocorrer de forma sequencial, a partir dos primeiros anos de vida. Em geral, a
Dermatite Atópica é a primeira manifestação clínica da marcha alérgica, seguida
de Asma e/ou Rinite Alérgica demonstrando o caráter de frequente de
persistência ou progressão de sintomas através das várias fases da vida.
SBE
- Quais são os sintomas?
Ana
Carla Moura - Os sintomas podem ser cutâneos -
urticária, dermatite; respiratórios - coriza, espirros, coceira nasal como na
rinite alérgica ou tosse crônica ou crises de sibilância (ruído semelhante a um
assobio); gastrintestinais - vômitos, diarreia, dor abdominal; ou sistêmicos
como na anafilaxia - reação alérgica grave onde vários sistemas podem estar
envolvidos, inclusive sistemas cardiovascular (pressão baixa) e nervoso central
(síncope ou perda dos sentidos devido à deficiência de irrigação sanguínea no cérebro).
SBE
- Como é feito o diagnóstico?
Ana
Carla Moura - O diagnóstico é realizado através da
anamnese (história clínica + exame físico) aliado a testes cutâneos que avaliam
a sensibilização aos diversos alérgenos. Outras ferramentas diagnósticas podem
ser utilizadas conforme a doença alérgica, como o Patch teste (teste de
contato) para a dermatite de contato ou reação adversa a medicamento, ou ainda
o teste de provocação para confirmar o diagnóstico de alergia alimentar e
medicamentos. No entanto, devem ser realizados pelo especialista após avaliação
clínica criteriosa.
SBE
- Quais são as possibilidades de tratamento?
Ana
Carla Moura - Há várias possibilidades terapêuticas – tratamento
com corticoides tópicos e inalatórios, Imunoterapia alérgeno-específico (tratamento
de doenças através da produção de tolerância imunológica) e, nos últimos anos, o uso de
imunobiológicos para tratamento da Asma, Urticária Crônica e mais recentemente
para Dermatite Atópica.
SBE
- Como prevenir as reações alérgicas?
Ana
Carla Moura - A prevenção pode ser iniciada em vários
períodos da vida, inclusive já na gravidez. Atuar na modificação do curso da
doença atópica significa estabelecer uma prevenção primária (impedir a
sensibilização precoce), secundária (deter a expressão da alergia em indivíduos
já sensibilizados) e a terciária (redução da morbidade da doença já instalada).
As medidas preventivas variam de acordo com as doenças alérgicas como
evitar exposição ao tabagismo para Asma, hidratação cutânea precoce para
Dermatite Atópica, são alguns exemplos. Nos indivíduos sensibilizados, a
educação dos pacientes e familiares é fundamental, como evitar exposição
ao alérgeno desencadeante, uso correto e regular da medicação, e manejo
terapêutico adequado nas crises. Em pacientes com história de reações graves, casos
de anafilaxia, o reconhecimento de sinais e sintomas são essenciais, bem como a
prescrição de adrenalina auto injetável.
SBE
- Há cura para a doença?
Ana
Carla Moura - Até o momento, não podemos falar em cura,
mas em controle de sintomas. Idealmente, seria a prevenção primária
(impedir a sensibilização alérgica e a quebra da tolerância imunológica), que
tem sido objeto de estudo e pesquisa na literatura recente.
SBE
- Que orientações poderiam ser dadas à população sobre os cuidados e prevenção?
Ana
Carla Moura - Aleitamento materno exclusivo
principalmente nos primeiros 4 meses de vida; Evitar tabagismo durante a
gestação e após; Diminuir estresse; Praticar atividade física regularmente;
Atividades ao ar livre; Diminuir a ingestão de alimentos processados e
industrializados; Evitar exposição ao alérgeno desencadeante (a exemplo
do ácaro); Consultar um especialista logo no início dos sintomas de doenças
alérgicas.
Ana Carla Moura
Alergologia e Imunologia,
Especialização pelo Instituto da Criança no Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), Título de Especialista
pela Associação Brasileira de Alergologia e Imunologia (ASBAI).
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