Pesquisa confirma descobertas
anteriores da Organização Mundial de Saúde
Comer
bacon e salsicha com frequência pode aumentar o risco de câncer de mama, conclui estudo publicado recentemente no
International Journal of Câncer.
Em
uma revisão sistemática de 15 pesquisas, cientistas de diversos países - entre
eles Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Itália -, apontaram no levantamento que
mulheres que consomem altos níveis de carne processada apresentam um risco 9%
maior de desenvolver a doença, em comparação com aquelas que comem pouco.
Os
achados confirmam descobertas anteriores da Organização Mundial de Saúde (OMS), que
coloca as carnes processadas na lista de alimentos que considera cancerígenos.
Especialistas
recomendam, no entanto, cautela em relação aos resultados do estudo, já que as
pesquisas avaliadas têm definições diferentes do que seria "consumo
elevado" e, muitas vezes, têm caráter observacional - ou seja, levam em
consideração informações fornecidas pelos pacientes, não sendo suficientes para
estabelecer relação direta de causa e efeito.
Qual é o risco?
No
Reino Unido, cerca de 14 em cada 100 mulheres terão câncer de mama em algum
momento de suas vidas.
O
aumento de 9% no risco sinalizado pelo estudo poderia se traduzir em
aproximadamente um caso "extra" a cada 100.
A
ONG britânica Cancer Research UK, dedicada a combater a doença, estima que
cerca de 23% dos cânceres de mama podem ser prevenidos.
Estima-se
que cerca de 8% dos casos sejam motivados por excesso de peso e obesidade,
enquanto outros 8% pelo consumo de álcool.
Os
autores do estudo, publicado no International Journal of Cancer, afirmam que a
relação que eles encontraram se refere apenas à carne processada, e não à carne
vermelha.
A
OMS lista a carne processada como cancerígena, principalmente devido a
evidências que a associam a um risco elevado de câncer de intestino, enquanto a
carne vermelha é classificada como "provavelmente cancerígena".
O que é carne processada?
A
carne processada é modificada para estender o prazo de validade ou alterar o
sabor - é geralmente defumada, curada, salgada ou contém conservantes.
Entre
elas, estão o bacon, linguiça, salsicha, salame, carne enlatada, carne seca e
presunto.
Existem
diferentes teorias de por que esse tipo de alimento pode aumentar o risco de
câncer - uma delas diz que o conservante pode reagir com a proteína da carne,
tornando-a cancerígena.
Até que ponto as descobertas são
confiáveis?
O
estudo, que inclui dados sobre mais de um milhão de mulheres, mostra uma
ligação entre o consumo de carne processada e o risco de câncer de mama, mas
não está claro se esse tipo de alimento realmente causa a doença.
Há
outras questões a serem consideradas.
Os
15 estudos analisados têm diferentes definições para o que seria uma taxa de
consumo elevada.
Por
exemplo, uma pesquisa do Reino Unido classifica o alto consumo em mais de 9
gramas por dia - o equivalente a apenas duas ou três fatias por semana,
enquanto outros estudos consideram uma quantidade muito maior.
Além
disso, a maioria das pesquisas analisadas é observacional, então não conseguem
provar relação de causa e efeito, se baseando na memória das participantes
sobre o que e quanto comeram.
Os
pesquisadores registraram o relato das mulheres e as acompanharam para ver se
desenvolveriam câncer de mama.
Mas
o problema desta metodologia é que quem consome mais ou menos carne processada
também pode ter outros hábitos diferentes, que podem explicar as diferenças no
risco de desenvolver a doença.
Devemos cortar a carne processada?
A
principal autora do estudo, Maryam Farvid, da Escola T.H. Chan de Saúde Pública
de Harvard, nos Estados Unidos, recomenda reduzir o consumo de carne, em vez de
eliminá-la por completo.
Atualmente,
o sistema público de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) recomenda não
ingerir mais de 70g de carne vermelha e processada por dia.
Gunter
Kuhnle, professor associado de nutrição e saúde da Universidade de Reading, no
Reino Unido, que não participou do estudo, disse que era
"questionável" se as pessoas deveriam reduzir seu consumo de carne
vermelha e processada por causa desta pesquisa.
Segundo
ele, o risco real representado pelas carnes processadas é "muito
pequeno" para o indivíduo e mais relevante para a população em geral.
Ele
diz, no entanto, que os resultados do estudo devem ser acompanhados para
investigar a relação entre carne processada e câncer - e verificar se o risco
associado pode ser reduzido, por exemplo, por meio de novos métodos de produção
de alimentos.
Fonte: BBC Brasil
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