quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Refluxo: menores de 6 meses e adolescentes são os mais afetados, segundo estudo da USP



Por Rebeka Gonçalves
Sabe aquela queimação que sentimos na garganta ou azia de vez em quando? Esse incômodo pode ser chamado de Refluxo Gastroesofágico (RGE), que nada mais é que a volta do alimento, sólido ou líquido, do estômago para o esôfago. Acontece que isso não é apenas um problema de adultos. Os bebês e as crianças também sofrem com vômitos e regurgitações, principalmente após mamadas e refeições. 
Vinícius Melo com apenas um mês de vida teve esses sintomas, explica a mãe dele, Luaní Melo: “Meu filho sempre apresentou um pouco de irritação para arrotar após a mamada. Já na primeira semana de vida, ele apresentou alguns episódios de choro intenso, mas imaginamos que era normal e reputamos o choro às famosas cólicas. Em seguida, quando estava com uns vinte dias, ele começou a golfar muito e sempre apresentar choro e irritação após o golfo. Ele golfava cinco ou seis vezes depois das mamadas, muitas vezes mais de uma hora depois de ter mamado. Aí decidimos procurar uma gastropediatra, que passou uma ultrassom e medicação”, conta a mãe. 
A Gastroenterologista Pediátrica do Hospital das Clínicas de Pernambuco, Manuela Torres esclarece sobre o porquê de as crianças terem mais refluxo que os adultos: “Nessa idade, especialmente abaixo de seis meses, a criança tem uma alimentação basicamente líquida, composta por leite materno ou leite industrializado, permanece muito tempo deitada e possui mecanismos anatômicos e fisiológicos de contenção do RGE ainda imaturos. Por esse motivo é muito comum crianças pequenas apresentarem regurgitações, as famosas golfadas”, desvenda a especialista. 
Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), em 2015, mostrou que crianças abaixo de seis meses e adolescentes são os mais afetados pelo RGE. Os principais fatores de risco para esses dados são as desordens neurológicas, malformações congênitas do esôfago, como a atresia esofágica e utilização de algumas medicações como corticoides e antiepilépticos.
Esse processo da volta do alimento do estômago em direção a boca pode ser considerado normal até quando a frequência, quantidade e duração passam a serem exageradas, e essas ‘golfadas’ ocasionam sintomas, que podem ser indicativos do refluxo. 
Em relação aos sintomas a especialista afirma: “Em crianças pequenas, os principais sintomas são vômitos e regurgitações, irritabilidade com choro excessivo, hiperextensão cervical (quando a criança fica arqueada para trás) conhecida como síndrome de Sandifer, recusa alimentar e perda de peso. Alguns desses sintomas são comuns à regurgitação infantil e à doença do refluxo, dificultando o diagnóstico correto. Em crianças maiores e adolescentes, os sintomas são comuns aos dos adultos, entre eles dor retroesternal (dor no peito), azia, sensação do retorno do alimento e regurgitações”, explica Manuela Torres. 
O tratamento inclui medidas medicamentosas e não-medicamentosas como explica a gastroenterologista. “Dentre as principais medidas estão o posicionamento da criança, com elevação da cabeceira da cama, a redução do volume da comida com redução dos intervalos entre as refeições e o espessamento do leite, se em uso do mesmo. Orientações para a família são extremamente importantes”, expõe. 
Há ainda um grupo de crianças, em que a doença do refluxo pode ser causada por alergia à proteína do leite de vaca. Neste caso, o tratamento inclui a retirada do leite de vaca e seus derivados da dieta da criança. 
Foi o caso do Vinícius como relata sua mãe: “Uma semana depois da ida a gastro não tinha havido nenhuma melhora. Foi quando ela entendeu que era o caso de eu iniciar a dieta de restrição de leite e soja, já que ele estava em aleitamento materno exclusivo, e alterou a medicação dele. No primeiro dia de dieta, já percebemos melhora. Com uma semana de dieta, Vinícius já não tinha nenhum desconforto. Mantivemos o remédio por dois meses, mas depois tiramos a medicação e ele seguiu bem, já que ele não tinha exatamente a doença do refluxo, mas estava apresentando refluxo em função da alergia à proteína do leite de vaca. E mantivemos a dieta até hoje”, conclui Luaní. 
Dentre as medicações disponíveis para a doença do refluxo, temos as antiácidas como a ranitidina e o omeprazol, e outras conhecidas como procinéticos, com potencial efeito de melhorar o tempo da passagem desses alimentos do estômago para o intestino, diminuindo as chances de refluxo. No entanto, o mercado não dispõe de nenhuma medicação com esse efeito procinético sem reações adversas importantes. Por isso, recomendamos a ida ao gastroenterologista para dar início a qualquer tratamento. 
Com relação à prevenção para as crianças maiores e adolescentes, a especialista orienta “diminuição de alimentos como bebidas gaseificadas, gorduras, álcool, posturais, como horários de ingerir líquidos antes de dormir, diminuição do peso, nas crianças obesas são medidas de prevenção do refluxo e da doença do refluxo”, recomenda.  

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