Por
Rebeka Gonçalves
Sabe
aquela queimação que sentimos na garganta ou azia de vez em quando? Esse
incômodo pode ser chamado de Refluxo Gastroesofágico (RGE), que nada mais é que
a volta do alimento, sólido ou líquido, do estômago para o esôfago. Acontece
que isso não é apenas um problema de adultos. Os bebês e as crianças também
sofrem com vômitos e regurgitações, principalmente após mamadas e refeições.
Vinícius
Melo com apenas um mês de vida teve esses sintomas, explica a mãe dele, Luaní
Melo: “Meu filho sempre apresentou um pouco de irritação para arrotar após a
mamada. Já na primeira semana de vida, ele apresentou alguns episódios de choro
intenso, mas imaginamos que era normal e reputamos o choro às famosas cólicas.
Em seguida, quando estava com uns vinte dias, ele começou a golfar muito e
sempre apresentar choro e irritação após o golfo. Ele golfava cinco ou seis
vezes depois das mamadas, muitas vezes mais de uma hora depois de ter mamado.
Aí decidimos procurar uma gastropediatra, que passou uma ultrassom e
medicação”, conta a mãe.
A
Gastroenterologista Pediátrica do Hospital das Clínicas de Pernambuco, Manuela
Torres esclarece sobre o porquê de as crianças terem mais refluxo que os
adultos: “Nessa idade, especialmente abaixo de seis meses, a criança tem uma
alimentação basicamente líquida, composta por leite materno ou leite
industrializado, permanece muito tempo deitada e possui mecanismos anatômicos e
fisiológicos de contenção do RGE ainda imaturos. Por esse motivo é muito comum
crianças pequenas apresentarem regurgitações, as famosas golfadas”, desvenda a
especialista.
Um
estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), em 2015, mostrou que crianças
abaixo de seis meses e adolescentes são os mais afetados pelo RGE. Os
principais fatores de risco para esses dados são as desordens neurológicas,
malformações congênitas do esôfago, como a atresia esofágica e utilização de
algumas medicações como corticoides e antiepilépticos.
Esse
processo da volta do alimento do estômago em direção a boca pode ser
considerado normal até quando a frequência, quantidade e duração passam a serem
exageradas, e essas ‘golfadas’ ocasionam sintomas, que podem ser indicativos do
refluxo.
Em
relação aos sintomas a especialista afirma: “Em crianças pequenas, os
principais sintomas são vômitos e regurgitações, irritabilidade com choro
excessivo, hiperextensão cervical (quando a criança fica arqueada para trás)
conhecida como síndrome de Sandifer, recusa alimentar e perda de peso. Alguns
desses sintomas são comuns à regurgitação infantil e à doença do refluxo,
dificultando o diagnóstico correto. Em crianças maiores e adolescentes, os
sintomas são comuns aos dos adultos, entre eles dor retroesternal (dor no
peito), azia, sensação do retorno do alimento e regurgitações”, explica Manuela
Torres.
O
tratamento inclui medidas medicamentosas e não-medicamentosas como explica a
gastroenterologista. “Dentre as principais medidas estão o posicionamento da
criança, com elevação da cabeceira da cama, a redução do volume da comida com
redução dos intervalos entre as refeições e o espessamento do leite, se em uso
do mesmo. Orientações para a família são extremamente importantes”, expõe.
Há
ainda um grupo de crianças, em que a doença do refluxo pode ser causada por
alergia à proteína do leite de vaca. Neste caso, o tratamento inclui a retirada
do leite de vaca e seus derivados da dieta da criança.
Foi
o caso do Vinícius como relata sua mãe: “Uma semana depois da ida a gastro não
tinha havido nenhuma melhora. Foi quando ela entendeu que era o caso de eu
iniciar a dieta de restrição de leite e soja, já que ele estava em aleitamento
materno exclusivo, e alterou a medicação dele. No primeiro dia de dieta, já percebemos
melhora. Com uma semana de dieta, Vinícius já não tinha nenhum desconforto.
Mantivemos o remédio por dois meses, mas depois tiramos a medicação e ele
seguiu bem, já que ele não tinha exatamente a doença do refluxo, mas estava
apresentando refluxo em função da alergia à proteína do leite de vaca. E mantivemos
a dieta até hoje”, conclui Luaní.
Dentre
as medicações disponíveis para a doença do refluxo, temos as antiácidas como a
ranitidina e o omeprazol, e outras conhecidas como procinéticos, com potencial
efeito de melhorar o tempo da passagem desses alimentos do estômago para o
intestino, diminuindo as chances de refluxo. No entanto, o mercado não dispõe
de nenhuma medicação com esse efeito procinético sem reações adversas
importantes. Por isso, recomendamos a ida ao gastroenterologista para dar
início a qualquer tratamento.
Com
relação à prevenção para as crianças maiores e adolescentes, a especialista
orienta “diminuição de alimentos como bebidas gaseificadas, gorduras, álcool,
posturais, como horários de ingerir líquidos antes de dormir, diminuição do
peso, nas crianças obesas são medidas de prevenção do refluxo e da doença do
refluxo”, recomenda.
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