quarta-feira, 18 de julho de 2018

Medo do câncer de mama tem aumentado a procura por mastectomia preventiva



O câncer de mama é o que mais acomete as mulheres no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a doença é responsável por cerca de 28% de novos casos a cada ano. Para 2018, o Instituto estima 59.700 novas ocorrências no país. Em geral, atinge mais as mulheres acima dos 40 anos e a incidência vai crescendo progressivamente com o aumento da faixa etária, sobretudo após os 50 anos.
Além de ser o tipo de tumor que mais mata as mulheres, o câncer de mama traz também uma insegurança em relação à questão física, sexual e mental. O receio de receber o diagnóstico tem feito com que muitas pacientes busquem a matectomia preventiva (procedimento de retirada da mama) como forma de evitar a doença. Sobretudo, após a atriz norte-americana Angelina Jolie ter realizado a intervenção nas duas mamas.
No entanto, a cirurgia não é indicada para todas com história familiar da enfermidade, como explica Márcia Pedrosa, mastologista da Salute, clínica especializada em saúde da mulher. “Muitas vezes elas vêm achando que é um procedimento estético, porque a Angelina Jolie fez e fica bonito, mas a gente tenta explicar que não é estético e tem muito risco. A paciente pode ter necrose de mamilo, pode ter necrose de pele, tem que fazer uma mastectomia total. Se a paciente tem BRCA positivo, existe indicação para esse procedimento, porque vai reduzir de 90% a 95% a chance dela ter câncer de mama”, esclarece a especialista.
BRCA são genes responsáveis por prevenir o crescimento descontrolado de células, protegendo o indivíduo contra o aparecimento de tumores. Quando a pessoa possui alguma mutação nesses genes, aumenta a probabilidade dela desenvolver o câncer. Hoje, já é possível fazer um estudo genético para detectar se o BRCA é defeituoso ou não e qual o risco de desenvolver a doença. No caso de Angelina Jolie, ela fez o estudo genético porque sua mãe morreu aos 56 anos vítima de câncer de mama. O resultado indicou que a atriz tinha 87% de risco de desenvolver a enfermidade, fato que a encorajou a realizar o procedimento. 
De acordo com Márcia Pedrosa, a indicação é para pacientes com BRCA positivo, mas muitas mulheres com resultado negativo também têm procurado fazer a retirada das mamas. “Tem pacientes que têm história familiar, mas não têm BRCA positivo e mesmo assim querem fazer a mastectomia profilática, mas não há indicação por que é uma mutilação. Nesse caso, o recomendado é o acompanhamento semestral, mas têm pacientes que só sossegam quando fazem o procedimento. O que a gente pode fazer é alertar para os riscos associados. A paciente tem que estar bem consciente dos riscos que está assumindo ao optar por esse tipo de tratamento”, reforça a mastologista. 
Há 6 anos, a paciente Rosana Gondim de Oliveira fez a mastectomia preventiva após o tratamento de um câncer. Ela não tinha história familiar e também não fez nenhum estudo genético, mas havia a indicação por já ter tido a doença. “Na época, eu tinha uma filha de menos de 2 anos e eu procurei imaginar qual o procedimento que faria com que eu ficasse com a cabeça melhor depois de todo tratamento. Que eu não ficasse achando que a qualquer momento eu ia ter outro câncer, que eu não ficasse meio numa neura. Eu precisava ter saúde mental pra criar minha filha”, relembra. Hoje, aos 49 anos, ela afirma que ficou satisfeita com o resultado e não se arrepende de sua escolha. “Não me arrependo em nenhum momento, foi a melhor coisa que eu fiz, me deu uma tranquilidade até hoje”, garante Rosana.
Embora a cirurgia já esteja bem sedimentada, ela não é a única maneira de reduzir os riscos de desenvolver a doença. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que todas as mulheres acima de 40 anos façam anualmente os exames de ultrasonografia e mamografia. Já para as mulheres com alto risco, o acompanhamento é diferente. Pacientes que têm histórico familiar, BRCA positivo, que receberam muita radiação no tórax devem iniciar os exames preventivos antes mesmo de completar 40 anos e realizá-los com maior frequência. 
Não tem como prevenir o câncer, mas é possível fazer um diagnóstico inicial e, com isso, até obter a cura. Além disso, é essencial adotar hábitos saudáveis e fazer os exames regularmente. “Se a gente consegue diagnosticar precocemente, as chances de tratar e curar são maiores. Nos casos avançados, a paciente vai ter um controle, mas não vai ter cura”, conclui Márcia Pedrosa. 

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