O câncer de mama é o que
mais acomete as mulheres no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional de
Câncer (INCA), a doença é responsável por cerca de 28% de novos casos a cada
ano. Para 2018, o Instituto estima 59.700 novas ocorrências no país. Em geral,
atinge mais as mulheres acima dos 40 anos e a incidência vai crescendo
progressivamente com o aumento da faixa etária, sobretudo após os 50 anos.
Além de ser o tipo de
tumor que mais mata as mulheres, o câncer de mama traz também uma insegurança em
relação à questão física, sexual e mental. O receio de receber o diagnóstico
tem feito com que muitas pacientes busquem a matectomia preventiva (procedimento
de retirada da mama) como forma de evitar a doença. Sobretudo, após a atriz norte-americana
Angelina Jolie ter realizado a intervenção nas duas mamas.
No entanto, a cirurgia
não é indicada para todas com história familiar da enfermidade, como explica Márcia
Pedrosa, mastologista da Salute, clínica especializada em saúde da mulher. “Muitas
vezes elas vêm achando que é um procedimento estético, porque a Angelina Jolie
fez e fica bonito, mas a gente tenta explicar que não é estético e tem muito
risco. A paciente pode ter necrose de mamilo, pode ter necrose de pele, tem que
fazer uma mastectomia total. Se a paciente tem BRCA positivo, existe indicação
para esse procedimento, porque vai reduzir de 90% a 95% a chance dela ter
câncer de mama”, esclarece a especialista.
BRCA são genes
responsáveis por prevenir o crescimento descontrolado de células, protegendo o
indivíduo contra o aparecimento de tumores. Quando a pessoa possui alguma
mutação nesses genes, aumenta a probabilidade dela desenvolver o câncer. Hoje,
já é possível fazer um estudo genético para detectar se o BRCA é defeituoso ou
não e qual o risco de desenvolver a doença. No caso de Angelina Jolie, ela fez
o estudo genético porque sua mãe morreu aos 56 anos vítima de câncer de mama. O
resultado indicou que a atriz tinha 87% de risco de desenvolver a enfermidade,
fato que a encorajou a realizar o procedimento.
De acordo com Márcia
Pedrosa, a indicação é para pacientes com BRCA positivo, mas muitas mulheres
com resultado negativo também têm procurado fazer a retirada das mamas. “Tem
pacientes que têm história familiar, mas não têm BRCA positivo e mesmo assim
querem fazer a mastectomia profilática, mas não há indicação por que é uma
mutilação. Nesse caso, o recomendado é o acompanhamento semestral, mas têm pacientes
que só sossegam quando fazem o procedimento. O que a gente pode fazer é alertar
para os riscos associados. A paciente tem que estar bem consciente dos riscos
que está assumindo ao optar por esse tipo de tratamento”, reforça a mastologista.
Há 6 anos, a paciente
Rosana Gondim de Oliveira fez a mastectomia preventiva após o tratamento de um
câncer. Ela não tinha história familiar e também não fez nenhum estudo genético,
mas havia a indicação por já ter tido a doença. “Na época, eu tinha uma filha
de menos de 2 anos e eu procurei imaginar qual o procedimento que faria com que
eu ficasse com a cabeça melhor depois de todo tratamento. Que eu não ficasse
achando que a qualquer momento eu ia ter outro câncer, que eu não ficasse meio
numa neura. Eu precisava ter saúde mental pra criar minha filha”, relembra. Hoje,
aos 49 anos, ela afirma que ficou satisfeita com o resultado e não se arrepende
de sua escolha. “Não me arrependo em nenhum momento, foi a melhor coisa que eu
fiz, me deu uma tranquilidade até hoje”, garante Rosana.
Embora a cirurgia já
esteja bem sedimentada, ela não é a única maneira de reduzir os riscos de desenvolver
a doença. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que todas as mulheres
acima de 40 anos façam anualmente os exames de ultrasonografia e mamografia. Já
para as mulheres com alto risco, o acompanhamento é diferente. Pacientes que
têm histórico familiar, BRCA positivo, que receberam muita radiação no tórax
devem iniciar os exames preventivos antes mesmo de completar 40 anos e
realizá-los com maior frequência.
Não tem como prevenir o
câncer, mas é possível fazer um diagnóstico inicial e, com isso, até obter a cura.
Além disso, é essencial adotar hábitos saudáveis e fazer os exames
regularmente. “Se a gente consegue diagnosticar precocemente, as chances de
tratar e curar são maiores. Nos casos avançados, a paciente vai ter um
controle, mas não vai ter cura”, conclui Márcia Pedrosa.
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