Por
Rebeka Gonçalves
O Transtorno do Espectro
do Autismo (TEA), popularmente conhecido como autismo, é um transtorno do
desenvolvimento neurológico caracterizado pela falta de habilidade para
interagir socialmente, pela dificuldade para comunicar-se ou lidar com jogos
simbólicos e pela repetição de determinados comportamentos. De acordo com o
Ministério da Saúde, estima-se que 1% da população brasileira tenha autismo.
Em 2012, o governo
brasileiro criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), em conformidade com a Lei Federal nº
12.765. Segundo ela, o portador da doença deve ser considerado uma pessoa com
deficiência para todos os efeitos legais.
“O autismo é um jeito de ser no mundo. Não
fossem os padrões adotados pelas sociedades humanas ditos “normais”, talvez o
autismo nem fosse considerado um desafio a superar, apenas uma forma diferente
de sentir a vida e tudo o que está em volta”, avalia Karla Bonfim, pediatra do
Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira.
De acordo com a pediatra, existe um guia internacional
para o diagnóstico e a estatística de transtornos mentais, o DSM-V (Manual de
Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) que
classifica o autismo no capítulo dos Transtornos do Neurodesenvolvimento.
“É um espectro porque não
há uma criança autista igual a outra. Há diversidades nas dimensões de
comunicação com as pessoas, nos interesses da criança, que tendem a ser mais
restritos e nos movimentos do corpo, que tendem a ser repetitivos. Crianças
autistas que encontram o amor incondicional de suas famílias têm maior chance
de transformações positivas do neurodesenvolvimento”, explica Karla Bonfim.
O atendimento do autista
é feito nos centros especializados em reabilitação por meio do Sistema Único de
Saúde (SUS) e compreende uma avaliação multiprofissional que é realizada por
uma equipe formada por médico psiquiatra ou neurologista e profissionais da
área de reabilitação, com a finalidade de estabelecer o impacto no
desenvolvimento global do indivíduo.
Lucas Laporte foi
diagnosticado com autismo aos dois anos de idade e sua mãe Luciana concedeu entrevista
ao Blog Saúde e Bem Estar para contar um pouco sobre as lutas e transformações
positivas que eles passaram juntos.
SBE:
Como foi a descoberta de ter um filho autista?
Luciana
Laporte: Eu descobri tarde que Lucas tinha autismo e ele
também tem uma síndrome do X frágil. Ele ia fazer dois anos, quando a médica
suspeitou do autismo. Ele tinha toda uma dificuldade com os movimentos, não
segurava o pescoço, só que eu era mãe de primeira viagem, então eu não sabia.
Mas como meu sogro era médico, ele foi percebendo que tinha alguma coisa
errada. Aí fui em busca de vários médicos, pois eu só queria correr atrás de
fazer alguma coisa para ajudar meu filho, pois seja lá o que ele tivesse, eu já
ia cuidando. Fui para vários pediatras, neurologistas e todos eles disseram
para voltar daqui a seis meses que ele não tinha nada. Mas, realmente ele tinha
uma boca muito flácida, ele ficava com a língua para fora o tempo todo e a
cabeça não levantava, o pescoço era caído.
Até hoje, eu não tive
aquele luto que as mães costumam ter, algumas não gostam de falar sobre o
assunto. Mesmo dentro do grupo só para autista, com diferentes graus. Para mim,
isso foi o mínimo, porque eu já tinha descoberto a síndrome do X frágil, já
tinha sido um choque. Quando eu descobrir que ele tinha o autismo não foi tão
ruim porque já tinha o diagnóstico da síndrome, aí quando o autismo chegou para
mim era tudo muito parecido então eu não me assustei, eu corri muito e não tive
tempo de me fazer essa pergunta.
SBE:
O que você sabia sobre essa condição antes de vivenciá-la?
Luciana
Laporte: Não sabia nada. Naquele tempo, era bem pior, porque
não via na rua, não percebia. Agora as pessoas estão mais conscientizadas. Mas,
naquela época, não tinha o dia 2 de abril, dia da conscientização do autismo.
Então, está se divulgando muito mais. Também não sei se era porque não tinha
ninguém na família. Se o tratamento hoje ainda é ruim e tem um déficit muito
grande, imagine naquele tempo. Então eu não via de jeito nenhum, não
observava.
SBE:
Quais são as dificuldades de desenvolvimento apresentadas pelo seu filho por
conta do autismo e como vocês o ajudam a vencê-las?
Luciana
Laporte: A principal dificuldade dele é em relação ao
comportamento, pois oscila muito. Tanto faz ele está bem, como faz ele está
chorando. Ele tinha muitas crises de oscilação, mas hoje ele está muito melhor,
devido a medicação. Ele toma um coquetel, pois não existe uma medicação
específica para a condição de ser autista, de melhora dos comportamentos.
Lucas batia muito na
cabeça, que é uma coisa auto lesiva, eram murros e murros do nada. Os pais têm
que descobrir o que está levando o autista a ter esse tipo de comportamento,
depois de descobrir tem que tentar extinguir e mudar para outro que seja
benéfico para ele. Então, as analistas tanto vinham aqui em casa e ficavam
observando quanto eu ia para lá para, assim, descobrirmos o porquê que ele se
batia tanto, descartando a parte clínica que era se existia alguma dor, como por
exemplo, uma dor de dente, através de exames e consultas. No caso de Lucas era
comportamental.
Outra dificuldade que
enfrentei com Lucas foi porque ele não andava, teve que fazer muita
fisioterapia. Ele ainda faz fonoaudióloga, pois tem hipersensibilidade ao toque
na boca, mas não compromete mais a alimentação. Ele veio comer sólidos com um
ano e três meses devido a flacidez muscular da boca.
Ele também teve
dificuldade na interação social, só fui ao shopping com ele uma vez, com os monitores
da Afeto, mas ele agora está bem melhor, devido ao tratamento. O tratamento da
análise do comportamento é o que ajuda no desenvolvimento.
SBE:
Que tipo de vitórias você tem a contar – dele e de toda a família?
Luciana
Laporte: A minha luta com ele é ainda maior porque a minha
família é muito distante. Ele tem pai, mas tudo que faz é comigo. Desde que ele
tinha seis meses, quem levava para a terapia, escola era eu. O progresso que eu
posso dizer é ver meu filho ir a um aniversário e dançar, poder ficar do começo
ao fim. Antigamente, ele passava 15 minutos e já queria ir embora e o pai dizia
não vale a pena levar, mas eu dizia tem que levar porque esses 15 minutos vão
aumentando cada vez mais. A vitória é ver ele hoje frequentando a casa das
pessoas, porque nós somos muitos excluídos pela família. Eu tenho uma única
irmã e ela nunca quis saber de acolher Lucas, então eu sou muito só. E a minha
vitória é ver meu filho na Afeto, a melhor terapia que existe aqui em Recife,
que faz análise do comportamento. Dando o direito às mães de saber o que fazer
com o filho.
A minha vitória é saber
que estou deixando o meu filho muito mais preparado para o mundo, pois um medo
que todas nós temos é sobre como irão ficar nossos filhos quando não estivermos
mais aqui. Então, todo dia eu tento uma nova conquista. Eu não estou plenamente
tranquila. Nenhuma mãe de autista está. Porque é muito difícil. A minha
conquista é estar tendo força para lutar pelo meu filho todos os dias, a cada
dia da minha vida. Enfim, minha luta é constante para que ele tenha benefícios
sempre.
Atualmente, uma das
grandes conquistas é conseguir levá-lo a restaurantes. Comecei com a pizzaria
do lado da Afeto, indo aos pouquinhos, até ele ficar sentado e comer a pizza
toda. Conquista que conseguir com Lucas aos 18 anos.
SBE:
Qual o recado você dá para mães e pais que estão vivendo a descoberta de ter um
filho autista?
Luciana
Laporte: Isso depende de cada um. Eu não tive tempo de sentir
o luto. Eu corri muito atrás e fui procurar não perder tempo. Esse sentimento
vem de cada um, o meu foi de correr atrás dos progressos, para que pudesse ter
êxito. Quanto mais você enfrenta, vai à luta, mais você consegue amenizar as
questões. Quanto mais você tratar o seu filho, mais independente e mais conquistas
você vai ter.
O que tenho a dizer aos
pais é que nunca percam a esperança, que seu filho progride sim, independente
do grau. Isso é uma condição de ser diferente, não é uma doença. Então, que
nunca desistam. Por mais que seja difícil, a questão é terapêutica, de estar
indo para clínicas multidisciplinares.
Que se tenha muita força
e não desista nunca, independente de qual problema for. Cair, chorar, se
desesperar, isso é muito normal no nosso mundo autista. Mas não pode se
entregar. Não pode descartar nenhuma possibilidade de tratamento, porque quanto
mais novo ele começar o tratamento adequado, melhor será o progresso na
adolescência e vida adulta.
Instituições
que atendem autistas em Recife:
Clínica
Somar Recife
Unidade
1: Rua Marques de Maricá, 48, Torre – Recife/PE
Tel:.
(81) 3441.5656 / (81) 3039.5656
Unidade
2: Rua Dona Benvinda de Farias,465, Boa Viagem – Recife/PE
Tel:.
(81)3465.3913
Clínica
Afeto
Rua
Inácio Galvão Dos Santos, 309, Encruzilhada – Recife/PE
CEP:
52041-210
Tel:.
(81) 3877.1942 / (81) 3124.4040
E-mail:
ass_afeto@hotmail.com
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