Segundo
as entidades a matéria da capa de julho aborda o erro médico com uma conotação equivocada
e alarmista
Ontem (28/07), várias
entidades médicas tornaram públicas notas de esclarecimento e repúdio à
reportagem de capa publicada na revista Superinteressante, edição 391 de
julho deste ano. A matéria aborda a questão do erro médico apresentando dados
alarmantes sobre a atuação desses profissionais.
A reportagem afirma que o
erro médico atinge 10% dos pacientes e que é a maior causa de morte no Brasil,
sendo responsável por mais de mil óbitos por dia. A revista compara a
probabilidade entre morrer de acidente aéreo (1 em cada 10 milhões) ou de erro
médico (1 em cada 300). Ela destaca ainda que trata-se de um problema imenso, que
não faz parte da lista oficial de causas de morte e não recebe a devida atenção
das entidades de classe e autoridades.
O Conselho Federal de
Medicina (CFM) divulgou uma nota, que será enviada à revista Superinteressante,
destacando a importância de tentar mensurar as falhas ocorridas nos serviços
assistenciais de saúde no Brasil. A instituição lamenta o tom alarmista adotado
pela reportagem e enfatiza que é imprescindível reconhecer os atores do
processo, sem culpabilizar uma categoria profissional.
“Trata-se de tema que
deve ser analisado com cautela, considerando-se as deficiências de
infraestrutura na assistência no País, em especial na rede pública, e no campo
da formação de profissionais da área, médicos e não-médicos. No entanto,
comete-se equívoco ao tratar casos específicos como se fossem a regra, o que
gera impacto negativo na relação médico-paciente, a qual deve ser pautada pela
ética, confiança e respeito à autonomia”, diz a nota do CFM.
A matéria da
Superinteressante traz relatos de pacientes sobre possíveis erros e enfatiza
que o crescimento descontrolado do número de faculdades de medicina pode incrementar
ainda mais o problema, uma vez que não houve um controle muito rígido sobre a
formação desses novos profissionais. Outra questão levantada pela publicação é
a sobrecarga dos profissionais no Sistema Único de Saúde, segundo ela, “Alguns
médicos chegam a atender um paciente a cada 6 minutos – pois o SUS paga apenas
12 reais por consulta”, afirma a reportagem.
De acordo com o CFM, os trabalhos
citados se baseiam em projeção de dados com limites reconhecidos pelos seus
autores e que, portanto, não permitem extrapolar resultados, como foi feito. Ressalta
ainda que os conselhos regionais têm acompanhado esse tema e apurado todas as
denúncias que surgem, além de denunciar as deficiências operacionais às
autoridades competentes.
O Conselho Regional de
Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e a Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) também se manifestaram publicamente sobre a abordagem equivocada
apresetada pela Superinteressante.
“A referida publicação
difama, desde sua capa, a figura do médico, como único responsável por
eventuais falhas no atendimento ao precário sistema de saúde. A matéria
generaliza ao apontar casos específicos de supostos “erros médicos”, tratando
esses fatos descolados de um contexto de sucateamento e subfinanciamento do
sistema público de saúde, más condições de trabalho para profissionais da
saúde, falta de profissionais e de insumos e excesso de demanda”, avalia o
Cremesp.
A SBP afirma que respeita
a liberdade de imprensa, mas lamenta a forma sensacionalista e alarmista como o
assunto foi tratado. “A imagem usada na capa sugere a demonização do médico,
como um agente do mal, uma serpente a ameaçar o paciente. Além disso, há o uso
reiterado do termo “erro médico”, como se todas as falhas fossem
responsabilidade de uma categoria ou outra, quando, na verdade, são o resultado
nefasto da precariedade e dos limites dos fluxos de atendimento”, critica.
As entidades reforçam que
os médicos, assim como os outros profissionais que atuam em hospitais,
consultórios e unidades de saúde, são comprometidos com o bem-estar, a saúde e
a vida dos pacientes. Em consenso, elas concluem que a reportagem agride a
categoria e cria um clima negativo e de insegurança para a população, minando assim
a relação de confiança e respeito que vem sendo construída entre médicos, pacientes
e familiares.
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