sexta-feira, 29 de junho de 2018

Entidades médicas manifestam repúdio à reportagem da Revista Superinteressante


Segundo as entidades a matéria da capa de julho aborda o erro médico com uma conotação equivocada e alarmista
Ontem (28/07), várias entidades médicas tornaram públicas notas de esclarecimento e repúdio à reportagem de capa publicada na revista Superinteressante, edição 391 de julho deste ano. A matéria aborda a questão do erro médico apresentando dados alarmantes sobre a atuação desses profissionais. 
A reportagem afirma que o erro médico atinge 10% dos pacientes e que é a maior causa de morte no Brasil, sendo responsável por mais de mil óbitos por dia. A revista compara a probabilidade entre morrer de acidente aéreo (1 em cada 10 milhões) ou de erro médico (1 em cada 300). Ela destaca ainda que trata-se de um problema imenso, que não faz parte da lista oficial de causas de morte e não recebe a devida atenção das entidades de classe e autoridades.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nota, que será enviada à revista Superinteressante, destacando a importância de tentar mensurar as falhas ocorridas nos serviços assistenciais de saúde no Brasil. A instituição lamenta o tom alarmista adotado pela reportagem e enfatiza que é imprescindível reconhecer os atores do processo, sem culpabilizar uma categoria profissional. 
“Trata-se de tema que deve ser analisado com cautela, considerando-se as deficiências de infraestrutura na assistência no País, em especial na rede pública, e no campo da formação de profissionais da área, médicos e não-médicos. No entanto, comete-se equívoco ao tratar casos específicos como se fossem a regra, o que gera impacto negativo na relação médico-paciente, a qual deve ser pautada pela ética, confiança e respeito à autonomia”, diz a nota do CFM.
A matéria da Superinteressante traz relatos de pacientes sobre possíveis erros e enfatiza que o crescimento descontrolado do número de faculdades de medicina pode incrementar ainda mais o problema, uma vez que não houve um controle muito rígido sobre a formação desses novos profissionais. Outra questão levantada pela publicação é a sobrecarga dos profissionais no Sistema Único de Saúde, segundo ela, “Alguns médicos chegam a atender um paciente a cada 6 minutos – pois o SUS paga apenas 12 reais por consulta”, afirma a reportagem. 
De acordo com o CFM, os trabalhos citados se baseiam em projeção de dados com limites reconhecidos pelos seus autores e que, portanto, não permitem extrapolar resultados, como foi feito. Ressalta ainda que os conselhos regionais têm acompanhado esse tema e apurado todas as denúncias que surgem, além de denunciar as deficiências operacionais às autoridades competentes. 
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também se manifestaram publicamente sobre a abordagem equivocada apresetada pela Superinteressante. 
“A referida publicação difama, desde sua capa, a figura do médico, como único responsável por eventuais falhas no atendimento ao precário sistema de saúde. A matéria generaliza ao apontar casos específicos de supostos “erros médicos”, tratando esses fatos descolados de um contexto de sucateamento e subfinanciamento do sistema público de saúde, más condições de trabalho para profissionais da saúde, falta de profissionais e de insumos e excesso de demanda”, avalia o Cremesp. 
A SBP afirma que respeita a liberdade de imprensa, mas lamenta a forma sensacionalista e alarmista como o assunto foi tratado. “A imagem usada na capa sugere a demonização do médico, como um agente do mal, uma serpente a ameaçar o paciente. Além disso, há o uso reiterado do termo “erro médico”, como se todas as falhas fossem responsabilidade de uma categoria ou outra, quando, na verdade, são o resultado nefasto da precariedade e dos limites dos fluxos de atendimento”, critica. 
As entidades reforçam que os médicos, assim como os outros profissionais que atuam em hospitais, consultórios e unidades de saúde, são comprometidos com o bem-estar, a saúde e a vida dos pacientes. Em consenso, elas concluem que a reportagem agride a categoria e cria um clima negativo e de insegurança para a população, minando assim a relação de confiança e respeito que vem sendo construída entre médicos, pacientes e familiares.  

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