A hepatite autoimune é
uma doença na qual o sistema de defesa do indivíduo ataca as células do próprio
fígado, levando à sua inflamação. Trata-se de uma reação do organismo que
entende que o órgão não é seu. Funciona como uma rejeição crônica, como se o fígado
fosse de outra pessoa, como se tivesse sido transplantado. Assim como nas
hepatites virais, ela também é assintomática e só apresenta sintomas nos
quadros avançados, normalmente cansaço e icterícia (olhos amarelados).
A hepatite autoimune acomete,
principalmente, mulheres em duas fases, na adolescência (até os 20 anos) e na
mulher após os 50 anos. A incidência é relativamente baixa, 1,9 casos para cada
100 mil habitantes e 75% são mulheres. Existem evidências que associam a
enfermidade com fatores genéticos e com a presença de doenças autoimunes de uma
forma geral, como doença de tireoide, de articulações, artrite reumatoide e
lúpus.
De acordo com Fábio
Marinho, hepatologista do Real Hepato, normalmente ela é diagnosticada a partir
da descoberta de alterações nas enzimas hepáticas (do fígado) e, em alguns
casos, há a necessidade de fazer biópsia para confirmar.
No início do ano, a enfermeira
R.M.C., de 50 anos, foi diagnosticada com hepatite autoimune. Em abril de 2017,
ela havia sido diagnosticada com mielite por vírus. O neurologista que a
acompanhava identificou, através de exames laboratoriais, alteração das
enzimas hepáticas. Inicialmente, achou-se que era um quadro de hepatite
medicamentosa, decorrente dos remédios que estavam sendo utilizados.
“Em janeiro de 2018 procurei
Dr. Fábio Marinho para começar a investigação, rastreamento de exames
laboratoriais específicos para doença autoimune e marcadores hepáticos (...)
e ele solicitou uma biópsia”, relembra a paciente.
Com o diagnóstico de
hepatite autoimune confirmado, R.M.C. passou a fazer acompanhamento através de
consultas e exames regulares e já vê respostas positivas ao tratamento. “Estou
ainda no início (do tratamento) mas já vejo respostas positivas, tomo
diariamente imunossupressores e corticoide para meu organismo reagir diante do
quadro de agressão das células ao meu fígado”, relata a enfermeira.
Não existe cura, mas o
controle da doença é possível através do uso de remédios para reduzir a reação
inflamatória. Normalmente, o tratamento é feito baseado em corticóides e
imunosupressores, que resolvem cerca de 70% a 80% da inflamação. O paciente com
hepatite autoimune pode levar uma vida normal, mas obviamente deve seguir a
orientação de beber pouco ou não beber, devido ao risco de agravar o quadro.
O hepatologista ressalta
ainda que, se disgnosticada tardiamente, ela pode evoluir para quadros mais avançados
como cirrose e até insuficiência do fígado, podendo levar o doente à
necessidade de um transplante. “Quando você tem uma descoberta mais avançada,
você pode ter um paciente com cirrose e as vezes até necessidade de
transplantar o fígado”, adverte.
“No início me desesperei.
Sou profissional da área de saúde e já vi pacientes evoluírem ao
quadro grave da doença tendo que se submeter a transplante hepático ou
então nem conseguirem fazer o transplante porque evoluíram muito rápido
chegando ao óbito”, recorda a paciente.
Hoje, já se consegue
identificar através de estudo genético se o paciente tem predisposição para ter
a doença. Contudo, mesmo sendo identificada a predisposição, não é possível tratar
se a hepatite não estiver ativa, o que pode ser feito é o acompanhamento e
rastreamento da enfermidade no organismo.
O especialista explica
que o grande desafio está no uso da tecnologia para a edição do gene. “A gente está
vivendo um momento agora da medicina completamente diferente, a hepatite
autoimune é um exemplo do que vai mudar na medicina. Hoje, a gente trata a
consequência da mutação genética, daqui há alguns anos a gente vai tratar o
gene. Já tem algumas doenças que você atua no gene. Tem uma tecnologia chamada crispr,
que você vai e edita o gene, então isso vai acontecer também para a hepatite
autoimune, eu não tenho dúvida, mas não agora”, conclui Fábio Marinho.
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