segunda-feira, 4 de junho de 2018

75% dos portadores de hepatite autoimune são mulheres



A hepatite autoimune é uma doença na qual o sistema de defesa do indivíduo ataca as células do próprio fígado, levando à sua inflamação. Trata-se de uma reação do organismo que entende que o órgão não é seu. Funciona como uma rejeição crônica, como se o fígado fosse de outra pessoa, como se tivesse sido transplantado. Assim como nas hepatites virais, ela também é assintomática e só apresenta sintomas nos quadros avançados, normalmente cansaço e icterícia (olhos amarelados). 
A hepatite autoimune acomete, principalmente, mulheres em duas fases, na adolescência (até os 20 anos) e na mulher após os 50 anos. A incidência é relativamente baixa, 1,9 casos para cada 100 mil habitantes e 75% são mulheres. Existem evidências que associam a enfermidade com fatores genéticos e com a presença de doenças autoimunes de uma forma geral, como doença de tireoide, de articulações, artrite reumatoide e lúpus.
De acordo com Fábio Marinho, hepatologista do Real Hepato, normalmente ela é diagnosticada a partir da descoberta de alterações nas enzimas hepáticas (do fígado) e, em alguns casos, há a necessidade de fazer biópsia para confirmar.
No início do ano, a enfermeira R.M.C., de 50 anos, foi diagnosticada com hepatite autoimune. Em abril de 2017, ela havia sido diagnosticada com mielite por vírus. O neurologista que a acompanhava identificou, através de exames laboratoriais, alteração das enzimas hepáticas. Inicialmente, achou-se que era um quadro de hepatite medicamentosa, decorrente dos remédios que estavam sendo utilizados. 
“Em janeiro de 2018 procurei Dr. Fábio Marinho para começar a investigação, rastreamento de exames laboratoriais específicos para doença autoimune e marcadores hepáticos (...) e ele solicitou uma biópsia”, relembra a paciente.
Com o diagnóstico de hepatite autoimune confirmado, R.M.C. passou a fazer acompanhamento através de consultas e exames regulares e já vê respostas positivas ao tratamento. “Estou ainda no início (do tratamento) mas já vejo respostas positivas, tomo diariamente imunossupressores e corticoide para meu organismo reagir diante do quadro de agressão das células ao meu fígado”, relata a enfermeira.
Não existe cura, mas o controle da doença é possível através do uso de remédios para reduzir a reação inflamatória. Normalmente, o tratamento é feito baseado em corticóides e imunosupressores, que resolvem cerca de 70% a 80% da inflamação. O paciente com hepatite autoimune pode levar uma vida normal, mas obviamente deve seguir a orientação de beber pouco ou não beber, devido ao risco de agravar o quadro. 
O hepatologista ressalta ainda que, se disgnosticada tardiamente, ela pode evoluir para quadros mais avançados como cirrose e até insuficiência do fígado, podendo levar o doente à necessidade de um transplante. “Quando você tem uma descoberta mais avançada, você pode ter um paciente com cirrose e as vezes até necessidade de transplantar o fígado”, adverte.
“No início me desesperei. Sou profissional da área de saúde e já vi pacientes evoluírem  ao  quadro grave da doença tendo que se submeter a transplante hepático ou então nem conseguirem fazer o transplante porque evoluíram muito rápido chegando ao óbito”, recorda a paciente.  
Hoje, já se consegue identificar através de estudo genético se o paciente tem predisposição para ter a doença. Contudo, mesmo sendo identificada a predisposição, não é possível tratar se a hepatite não estiver ativa, o que pode ser feito é o acompanhamento e rastreamento da enfermidade no organismo.
O especialista explica que o grande desafio está no uso da tecnologia para a edição do gene. “A gente está vivendo um momento agora da medicina completamente diferente, a hepatite autoimune é um exemplo do que vai mudar na medicina. Hoje, a gente trata a consequência da mutação genética, daqui há alguns anos a gente vai tratar o gene. Já tem algumas doenças que você atua no gene. Tem uma tecnologia chamada crispr, que você vai e edita o gene, então isso vai acontecer também para a hepatite autoimune, eu não tenho dúvida, mas não agora”, conclui Fábio Marinho.

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