quinta-feira, 24 de maio de 2018

Você tem cólica? Então você pode ter endometriose

Por Rebeka Gonçalves

Uma em cada 10 mulheres tem endometriose no Brasil. Na maioria das vezes, o sintoma pode ser apenas cólica menstrual e o diagnóstico tardio pode ocasionar dores crônicas e infertilidade. Em entrevista ao Blog Saúde e Bem Estar, a ginecologista e obstetra Vilma Guimarães esclarece todas as dúvidas sobre essa doença.
O que é a endometriose?
A endometriose é uma doença muito enigmática, decorrente da presença do tecido que fica dentro da camada interna do útero, que é chamada de endométrio. Essas células se localizam em um lugar ectópico, ou seja, fora do lugar habitual. Então, esses tecidos e/ou células podem ficar na pelve, no ovário, podem atingir o intestino ou qualquer outra região do organismo.
Qual a causa dessa doença?
Existem várias teorias que tentam explicar, mas em vários casos não têm explicação muito lógica. Na pelve, na maioria das vezes, é provocada por pequenos refluxos menstruais que ocorrem, principalmente, em mulheres que tem alguma má formação uterina.
Qual o percentual de mulheres com endometriose no Brasil?
É uma doença bastante frequente, que chega a ser um problema de saúde pública. Estima-se que cerca de 6 milhões de brasileiras são acometidas pela doença. Normalmente, ela acontece a partir dos 30 anos, mas hoje em dia existe uma orientação muito forte de valorizar as dores menstruais, principalmente, em adolescentes e mulheres jovens, porque em muitos casos já é endometriose. No passado, havia uma tendência de se fazer o diagnóstico muito tardio, então, atualmente, já se alerta para a realização do diagnóstico e começo do tratamento o mais precoce possível para evitar que a doença se agrave, com consequências como a infertilidade e a dor crônica.
Quais são procedimentos utilizados para o tratamento?
O tratamento pode ser clínico, à base de hormônios para bloquear a menstruação, já que o processo é mantido e alimentado pelo sangue menstrual, diminuindo o processo inflamatório e a chance da evolução da doença. Em casos mais avançados, onde você tem massas pélvicas, grandes tumorações ovarianas, o tratamento cirúrgico se impõe. Mas, evita-se ao máximo o tratamento cirúrgico, porque mesmo quando esse procedimento é feito, é preciso manter o bloqueio hormonal, uma vez que o percentual de recidiva da doença é elevado.
O tratamento também pode ser feito com anticoncepcionais?
Pode sim. Existem vários tipos de anticoncepcionais, os que chamamos de combinados, que é a associação de estrógeno e progesterona, e existe os que são só a base de progesterona, esses seriam os mais indicados, visto que o estrógeno pode alimentar esses focos de endometriose. De acordo com pesquisas mais modernas, existem os derivados de progesterona, desenvolvidos com o fim de tratar a endometriose, bloqueando a menstruação para evitar os focos. Quando usamos esses hormônios, também temos que ter o cuidado porque várias mulheres têm efeitos adversos e temos que explicar a elas da necessidade de manter esse bloqueio da menstruação. Então, esse manejo clínico dos hormônios depende muito de como cada mulher vai reagir, precisando de ajuste frequente com o ginecologista para adequar o melhor tratamento. Outra opção que é muito usada é o uso do DIU hormonal, que é a base de progesterona e dá uma estabilidade muito grande às pacientes. Elas ficam sem menstruar e têm menos efeitos do que se tomarem o anticoncepcional.
Ficar sem menstruar pode trazer algum problema para a saúde da mulher?
Não menstruar não acarreta nenhum dano para a mulher. No caso da endometriose, de fato, é um tratamento. E ainda tem os casos em que as mulheres acham a menstruação desagradável, incomoda, tem muito fluxo e causa dor. Então, independentemente de ter endometriose ou não, as pacientes podem se beneficiar com o bloqueio menstrual, que pode ser através do uso de remédios orais, injetáveis, e mais recentemente, os implantes de progesterona e de DIU hormonal.
A endometriose tem cura?
Mesmo fazendo um tratamento clínico adequado ou até cirúrgico, removendo todo os focos da doença, existe uma alta possibilidade de recidiva, entre 20% a 40% dos casos. Então, a recomendação é sempre manter um tratamento preventivo, para evitar o aparecimento de novos focos. Na verdade, o que vai tratar definitivamente é a menopausa, porque o ovário deixa de produzir o hormônio que mantém a endometriose, que é o estrógeno.
É possível engravidar tendo endometriose?
Muitas pacientes que só engravidaram através de fertilização, conseguem uma gestação espontânea do segundo filho depois do tratamento, porque a própria gravidez já provoca um bloqueio na endometriose. Um aspecto importante, é que muitas mulheres com a enfermidade conseguem engravidar mesmo sem tratamento. Existem pacientes que têm muitos focos e engravidam espontaneamente, já tem outras com focos mínimos que não conseguem. Então, a recomendação é sempre tentar antes de partir para tratamentos mais agressivos.
Então, procure a sua ginecologista ou um posto de saúde perto da sua casa. A prevenção sempre é o melhor remédio.

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