Uma em cada 10 mulheres
tem endometriose no Brasil. Na maioria das vezes, o sintoma pode ser apenas
cólica menstrual e o diagnóstico tardio pode ocasionar dores crônicas e
infertilidade. Em entrevista ao Blog Saúde e Bem Estar, a ginecologista e obstetra
Vilma Guimarães esclarece todas as dúvidas sobre essa doença.
O
que é a endometriose?
A endometriose é uma
doença muito enigmática, decorrente da presença do tecido que fica dentro da
camada interna do útero, que é chamada de endométrio. Essas células se
localizam em um lugar ectópico, ou seja, fora do lugar habitual. Então, esses
tecidos e/ou células podem ficar na pelve, no ovário, podem atingir o intestino
ou qualquer outra região do organismo.
Qual
a causa dessa doença?
Existem várias teorias
que tentam explicar, mas em vários casos não têm explicação muito lógica. Na pelve,
na maioria das vezes, é provocada por pequenos refluxos menstruais que ocorrem,
principalmente, em mulheres que tem alguma má formação uterina.
Qual
o percentual de mulheres com endometriose no Brasil?
É uma doença bastante
frequente, que chega a ser um problema de saúde pública. Estima-se que cerca de
6 milhões de brasileiras são acometidas pela doença. Normalmente, ela acontece
a partir dos 30 anos, mas hoje em dia existe uma orientação muito forte de
valorizar as dores menstruais, principalmente, em adolescentes e mulheres
jovens, porque em muitos casos já é endometriose. No passado, havia uma
tendência de se fazer o diagnóstico muito tardio, então, atualmente, já se alerta
para a realização do diagnóstico e começo do tratamento o mais precoce possível
para evitar que a doença se agrave, com consequências como a infertilidade e a
dor crônica.
Quais
são procedimentos utilizados para o tratamento?
O tratamento pode ser
clínico, à base de hormônios para bloquear a menstruação, já que o processo é
mantido e alimentado pelo sangue menstrual, diminuindo o processo inflamatório
e a chance da evolução da doença. Em casos mais avançados, onde você tem massas
pélvicas, grandes tumorações ovarianas, o tratamento cirúrgico se impõe. Mas, evita-se
ao máximo o tratamento cirúrgico, porque mesmo quando esse procedimento é
feito, é preciso manter o bloqueio hormonal, uma vez que o percentual de recidiva
da doença é elevado.
O
tratamento também pode ser feito com anticoncepcionais?
Pode sim. Existem vários
tipos de anticoncepcionais, os que chamamos de combinados, que é a associação
de estrógeno e progesterona, e existe os que são só a base de progesterona,
esses seriam os mais indicados, visto que o estrógeno pode alimentar esses
focos de endometriose. De acordo com pesquisas mais modernas, existem os
derivados de progesterona, desenvolvidos com o fim de tratar a endometriose, bloqueando
a menstruação para evitar os focos. Quando usamos esses hormônios, também temos
que ter o cuidado porque várias mulheres têm efeitos adversos e temos que
explicar a elas da necessidade de manter esse bloqueio da menstruação. Então,
esse manejo clínico dos hormônios depende muito de como cada mulher vai reagir,
precisando de ajuste frequente com o ginecologista para adequar o melhor
tratamento. Outra opção que é muito usada é o uso do DIU hormonal, que é a base
de progesterona e dá uma estabilidade muito grande às pacientes. Elas ficam sem
menstruar e têm menos efeitos do que se tomarem o anticoncepcional.
Ficar
sem menstruar pode trazer algum problema para a saúde da mulher?
Não menstruar não
acarreta nenhum dano para a mulher. No caso da endometriose, de fato, é um
tratamento. E ainda tem os casos em que as mulheres acham a menstruação desagradável,
incomoda, tem muito fluxo e causa dor. Então, independentemente de ter
endometriose ou não, as pacientes podem se beneficiar com o bloqueio menstrual,
que pode ser através do uso de remédios orais, injetáveis, e mais recentemente,
os implantes de progesterona e de DIU hormonal.
A
endometriose tem cura?
Mesmo fazendo um
tratamento clínico adequado ou até cirúrgico, removendo todo os focos da doença,
existe uma alta possibilidade de recidiva, entre 20% a 40% dos casos. Então, a
recomendação é sempre manter um tratamento preventivo, para evitar o
aparecimento de novos focos. Na verdade, o que vai tratar definitivamente é a
menopausa, porque o ovário deixa de produzir o hormônio que mantém a
endometriose, que é o estrógeno.
É
possível engravidar tendo endometriose?
Muitas pacientes que só
engravidaram através de fertilização, conseguem uma gestação espontânea do
segundo filho depois do tratamento, porque a própria gravidez já provoca um
bloqueio na endometriose. Um aspecto importante, é que muitas mulheres com a
enfermidade conseguem engravidar mesmo sem tratamento. Existem pacientes que têm
muitos focos e engravidam espontaneamente, já tem outras com focos mínimos que
não conseguem. Então, a recomendação é sempre tentar antes de partir para
tratamentos mais agressivos.
Então,
procure a sua ginecologista ou um posto de saúde perto da sua casa. A prevenção
sempre é o melhor remédio.
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