Se você tenta levar uma vida saudável, provavelmente presta atenção ao
tipo de alimento e ao tamanho das porções que consome.
Mas
uma nova pesquisa indica que tão importante quanto isso é observar quando você
come.
Nutricionistas
vão recomendar que você se alimente em intervalos regulares e nunca pule uma
refeição.
Os
"ratos de academia" aconselham você a comer certos nutrientes antes,
durante e depois de praticar exercício; e pesquisas indicam que ingerir a maior
parte das calorias no início do dia ajuda a combater a obesidade.
Agora,
um estudo que analisa o ritmo circadiano (período de 24 horas em que se baseia
o relógio biológico) diz que devemos limitar nossa alimentação às primeiras
oito a dez horas em que estamos acordados, para dar ao corpo tempo suficiente
para digerir a comida, descansar e se recuperar.
O
pesquisador Satchin Panda é professor do Salk Institute, em Dallas, nos EUA, e
autor do livro The Circadian Code ("O Código Circadiano", em tradução
livre), resultado de 10 anos de pesquisa sobre o assunto.
Ele
explica à BBC que o corpo funciona melhor quando nossos hábitos alimentares
estão alinhados ao ritmo circadiano.
"Quase
todas as células do nosso corpo têm seu próprio relógio circadiano, o nosso
relógio de 24 horas. Isso significa que todos os hormônios, todas as
substâncias químicas do cérebro, todas as enzimas e até mesmo todos os genes no
genoma aumentam e diminuem em determinados momentos do dia", diz Panda.
"Quer
dizer que, assim como há um momento ideal para dormir, há um momento ideal para
comer, estudar, fazer atividade física. O que estamos descobrindo é que nosso
corpo é voltado para digerir alimentos e absorver nutrientes apenas de oito a
dez horas por dia - no máximo, 12 horas talvez."
"Fora
deste período, o nosso relógio circadiano vira a chave, e o nosso corpo entra
num modo diferente para recuperar, restaurar e rejuvenescer", acrescenta.
A importância do intervalo
Em
2012, Panda e seus colegas do Instituto Salk conduziram um estudo com dois
grupos idênticos de ratos.
O
primeiro grupo recebeu alimentos ricos em gordura e açúcar, e os animais podiam
comer sempre que quisessem.
Ao
segundo grupo, foi fornecida quantidade equivalente dos mesmos alimentos - mas
com um intervalo de oito horas.
Após
18 semanas, os ratos que se alimentaram sem restrição de horário estavam
diabéticos e obesos, tinham ainda colesterol alto e problemas intestinais.
Surpreendentemente,
aqueles que consumiram a mesma dieta com um espaçamento de oito horas não
apresentaram qualquer doença.
Panda
explica que quando paramos de comer, as toxinas do ambiente e dos alimentos são
eliminadas, os níveis de colesterol são reduzidos, os músculos, a pele, o
revestimento do intestino e até mesmo o DNA são reparados.
Continuar
comendo após essa janela de oito a dez horas afeta esses processos, pois o
corpo passa a focar na digestão e no processamento de nutrientes.
"Fazer
esse intervalo oferece os melhores resultados para a saúde. Mas muitas pessoas
não gostam da palavra jejum", afirma Panda.
"Nós
não sugerimos o que e em que quantidade você deve comer. Mas tenha em mente os
horários em que você se alimenta, e reserve de oito a dez horas - 12 horas, no
máximo - para isso. Fora desse horário, até comida saudável pode se tornar uma
porcaria", esclarece.
Outras pesquisas
Panda
diz que suas descobertas são respaldadas por outros estudos.
"Um
estudo mostrou que mulheres que jejuavam por mais de 13 horas todas as noites
apresentavam um risco significativamente menor de câncer de mama", conta.
Esses
trabalhos entram intrinsecamente em conflito com o hábito de algumas pessoas de
beliscar até a hora de dormir - e, sem dúvida, daquelas que adotam um estilo de
vida mais intenso e movimentado.
Em
2015, Panda realizou uma pesquisa com voluntários, que concordaram em ser
monitorados por meio de um aplicativo de smartphone. O resultado mostrou que
eles comiam por um período de 15 horas ou mais ao dia.
Mas
quando indivíduos com excesso de peso, que comiam ao longo de mais de 14 horas,
restringiram a alimentação para um período de 10 a 11 horas, durante 16 semanas
- sem mudar a dieta -, eles reduziram o peso corporal, relataram ganho de
energia e melhora na qualidade do sono.
Os
benefícios persistiram por um ano.
Desafio para quem muda de turno no
trabalho
Se
manter fiel a essas descobertas pode ser um desafio para quem muda
constantemente de turno no trabalho.
Mas
Panda acredita que é possível se adaptar.
"Para
as pessoas que alternam entre turnos diurnos e noturnos, é importante prestar
atenção em quando comer. Depois de acordar, espere uma hora até ingerir sua
primeira caloria. Depois, reserve oito a dez horas por dia para comer. E quando
você voltar para um horário sociável, reserve oito a dez horas para se
alimentar", diz ele.
"E
é importante evitar o consumo de álcool, porque quem trabalha em turnos é muito
mais sensível ao álcool, que pode danificar o revestimento intestinal e causar
doenças."
Assaltar
a geladeira no meio da noite, devorar alimentos salgados e gordurosos após uma
noite de bebedeira e até mudar o horário das refeições nos fins de semana são
hábitos incompatíveis com uma alimentação saudável.
Panda
compara essas variações a um "jet lag metabólico", que desorganiza o
sistema digestivo e agrava o desalinhamento entre os hábitos alimentares e os
ciclos circadianos.
"(Eles)
são análogos a uma pessoa viajando por fusos horários diferentes todo fim de
semana", explica.
Fonte: BBC Brasil
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