Cristiana Tavares é oncologista e acompanhou Sandra durante seu tratamento |
Por
Rebeka Gonçalves
A
descoberta de um nódulo é bastante aterrorizante, mas o câncer de mama é ainda
pior para as mulheres. Uma doença que vem tomando proporções cada vez maiores
no mundo, mas que ainda é cercada por mitos e relacionada imediatamente com a
morte, o que nem sempre acontece. O Blog Saúde e Bem Estar conversou com a
estudante Sandra Basílio que descobriu que tinha câncer de mama aos 32 anos de
idade.
“No
final de 2016, ao acordar, eu senti um nódulo na minha mama, nossa, me
desesperei, então comecei a correr atrás. Primeiro fui em uma clínica popular e
pedi para fazer uma ultra, o médico me apalpou e disse que eu não me
preocupasse, pois na opinião dele era benigno. Fiquei mais tranquila. Em
janeiro de 2017, fui a uma consulta em uma clínica particular e levei esse
exame que tinha feito na clínica popular. Ela disse a mesma coisa, que era
benigno e que eu não me preocupasse. E decidimos fazer a cirurgia para tirar o
nódulo porque eu tenho um histórico familiar muito grande - minha bisavó
teve, mas não lembro onde foi, minha avó foi nos ovários, minha mãe e
minha tia também foram câncer de mama. Então, por questão de segurança
resolvemos tirar o nódulo, a médica dispensou até a punção, disse que eu não
precisaria fazer. Fiz logo a cirurgia em um hospital particular. Mandamos o nódulo
para a biopsia e o resultado deu que eu tinha que fazer uma imunohistoquímica.
A partir daí já comecei a ficar nervosa porque se fosse benigno, já teria
informado no próprio exame”, lembra Sandra.
O
câncer de mama é um tumor maligno que se desenvolve na mama como consequência
de alterações genéticas em algum conjunto de células, que passam a se dividir
descontroladamente. Ocorre o crescimento anormal das células mamárias, tanto do
ducto mamário quanto dos glóbulos mamários. Esse é o tipo de câncer que mais
acomete as mulheres em todo o mundo, sendo 1,38 milhões de novos casos e 458
mil mortes pela doença por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS).
Segundo
a oncologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Cristiana Tavares, a
melhor forma de prevenção é o diagnóstico precoce: “O câncer de mama não é uma
doença que se pode prevenir, mas sim diagnosticar precocemente. O diagnóstico é
realizado através de mamografia. E a ultrassom e a ressonância magnética das
mamas são exames complementares. Se você não tem casos na família, a mamografia
deve ser feita a partir dos 40 anos, a cada dois anos, e a partir dos 50 anos,
anualmente. Mas, pacientes que tem fatores de risco alto devem fazer a
mamografia a partir dos 30 anos. Entretanto, caso a mulher perceba qualquer
anormalidade na mama, pode ser um nódulo na mama ou nas axilas, secreção pelo
mamilo, uma mama maior do que a outra, mudança de coloração da mama,
afundamento, pele casca de laranja e/ou vermelhidão em uma das mamas. Então, nessas
situações, a mulher pode fazer a mamografia ou ultrassom em qualquer faixa
etária”, elucida.
Sandra
também lembra como foi a reação quando descobriu que tinha câncer de mama.
“Quando peguei o resultado tinha dado o carcinoma ductal invasivo. Nossa!! Me
lembro como hoje, foi terrível esse dia, chorei bastante e pensei que iria
morrer. Fiquei muito mal, não dormia direito e só fazia chorar. Mas graças a
Deus consegui uma consulta com a Dra. Cristiana lá no Osvaldo Cruz, e ela foi
muito atenciosa comigo, conversamos bastante e ela me pediu para que eu fizesse
alguns exames, entre eles o BRCA 1 E BRCA 2 - que é o exame que a Angelina
Jolie fez. Nesse exame, detectou que eu tinha mutação para ter o câncer de mama
e ovários - 80% mama 40% ovários. Dra. Cristiana me encaminhou para a Dra.
Vidiana que é mastologista. Levei os meus exames para ela e por eu ser uma
paciente de alto risco devido ao meu histórico familiar, ela me aconselhou
a tirar as duas mamas e colocar silicone. Marcamos a cirurgia para maio de
2017. Graças a Deus deu tudo certo. Depois de ter me recuperado, voltei para a
Dra. Cristiana, e ela ao me ver ficou muito emocionada e feliz. Confesso que me
segurei para não chorar... A primeira batalha eu tinha vencido, faltava agora o
tratamento que até então eu não sabia se iria precisar fazer ou não”, conta.
A parte mais dolorosa: o tratamento
“Atualmente,
o tratamento do câncer de mama é multifatorial e individualizado, pois existem
vários tipos de câncer de mama, que vão do mais simples até o mais agressivo. E
de acordo com essa classificação molecular, é que o tratamento pode ser
projetado, para saber se a paciente fará apenas a cirurgia ou cirurgia e
radioterapia ou só hormônio terapia ou a quimioterapia. Então, isso depende
muito do subtipo molecular, depende também do estadiamento da paciente, da
idade. Assim, tumores menores com menor tamanho, até dois centímetros, a
paciente pode fazer uma assinatura genética, uma assinatura molecular, chamada
de oncotaipe ou mama print. Essas
assinaturas podem dizer com mais precisão qual o tratamento ideal para cada
paciente. É uma técnica bem interessante, porque cada vez mais o tratamento do
câncer de mama está sendo individualizado, caso a caso”, explica a oncologista.
Entretanto,
no caso de Sandra foi necessário à quimioterapia devido ao histórico familiar
dela: “Mas em reunião com sua equipe, Dra. Cristiana concluiu que eu teria que
fazer a quimioterapia por causa do histórico familiar que eu tenho e por
segurança. Confesso que fiquei muito triste, pois a primeira coisa que eu
pensei foi na queda do meu cabelo, mas eu tinha que enfrentar mais essa barra!
Foram 4 sessões da vermelha e 12 da branca. A vermelha é mais severa, pois dar
muito enjoo, fadiga e fastio. Comecei a tomar um suco que era com couve,
cenoura e beterraba para ajudar na minha imunidade e ajudou muito. No primeiro
mês meu cabelo começou a cair, era uma angústia tão grande, toda vez que eu
acordava e ia ajeitar meu cabelo, ele caía de bolo mesmo, dava para fazer
uma peruca. Então, pedi para o meu irmão passar a máquina no meu cabelo. No
início ele não queria, mas aí eu falei que se ele não raspasse a minha cabeça
eu iria fazer só mesmo, mas ele raspou. Fiz todas as sessões e não tive nenhuma
reação, graças a Deus”, relata a paciente.
Fatores que podem aumentar o risco
Os
tumores de mama são os mais prevalentes entre as mulheres, de acordo com dados
do Ministério da Saúde. Cerca de 20% dos tumores de mama são hereditários, ou
seja, são herdados através de mutação genética passando de mãe para filha,
sendo considerados de alto risco. “Então, é necessário identificar a herança
familiar para que essas mulheres possam começar os exames de rastreamento mais
cedo, a partir dos 30 anos de idade. Por isso, a importância de fazer os exames
para que o diagnóstico seja cada vez mais precoce e com isso melhore a chance
de cura”, orienta a oncologista.
Segundo
a especialista, outros fatores de risco que aumentam em 20% o risco de câncer
de mama podem ser a obesidade e o sedentarismo. E são fatores que qualquer
pessoa pode modificar ao longo da vida. Entretanto, existem fatores que não são
modificáveis como os relacionados a vida reprodutiva da mulher, ou seja, a
primeira menstruação antes dos 10 anos, a última menstruação após os 52 anos,
mulheres que só tiveram um filho, mulheres que amamentaram muito pouco ou não
amamentaram, mulheres que não tiveram filhos.
“Outro
possível fator de risco é o uso de terapia de reposição hormonal após a
menopausa, mas isso não aumenta a mortalidade e essas pacientes têm o
prognóstico igual ao de mulheres que nunca fizeram terapia de reposição
hormonal. O uso de anticoncepcional também pode dar um pequeno, muito pequeno,
aumento no risco de câncer. A obesidade e o sedentarismo são riscos muito
maiores, inclusive do que o próprio uso do contraceptivo. E, principalmente,
quando se tem o risco de uma gravidez indesejada, então as mulheres devem
continuar tomando o anticoncepcional”, esclarece.
A Recuperação e uma lição
“Agora
estou bem, curada e siliconada (risos)... Meu cabelo ainda tá crescendo.
No começo eu usava touca para poder sair na rua, mas agora não mais, meu cabelo
está crescendo e eu estou crescendo junto com eles!!! Estou tomando tamoxifeno
e tomarei por 10 anos. E deixo para as mulheres que foram recém-diagnosticadas
com a doença é que nunca desistam, o senhor Jesus é maravilhoso e da mesma
forma que eu fui curada elas também serão, basta acreditar, ter fé e enfrentar
dia após dia, porque a vitória, da mesma forma que chegou para mim, também
chegará para elas. Agradeço a Deus todos os dias por permitir que eu
continuasse a viver. E agradeço também às minhas lindas doutoras: Cristiana e
Vidiana, pois elas foram maravilhosas comigo”, conclui Sandra Basílio, mais uma
mulher que superou o câncer de mama.
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